Isto, passou-se a 28 de Dezembro de 2009.
Carlos Simão, na altura presidente da Junta de Freguesia de
S. Pedro há 16 anos, disse no decorrer da Assembleia de Freguesia, realizada nesse dia, esta coisa absolutamente extraordinária: “Cova Gala é um nome interno, ou
seja, não existe em lado nenhum. O que existe é Freguesia de S. Pedro da
Figueira da Foz."
Relativamente à ascensão da Freguesia de S. Pedro a Vila,
Carlos Simão foi curto e claro: "fui eu e o Sr. Domingos Laureano que
fornecemos informações ao deputado Miguel de Almeida com o intuito de
fundamentar o pedido da ascensão da nossa Freguesia a Vila de S. Pedro da
Figueira da Foz”.
Carlos Simão, na oportunidade, foi mais longe e afirmou.
“Oficialmente nunca irei representar a Cova Gala.”
Na altura, o então presidente da Junta de Freguesia de S.
Pedro, sublinhou o seu ponto de vista sobre a aceitação dos covagalenses em
relação ao nome da Vila: “aquilo que eu sei, é que há pessoas que gostam mais
de Vila de S. Pedro do que Vila da Cova e Gala."
Perante isto, quem não conheça o nosso passado, ao entrar agora pela porta grande na Aldeia, fica por saber que está na Cova e Gala.
Isto é grave - mexe com os sentimentos mais profundos dos descendentes dos ílhavos que ainda cá moram.
Embora real, porque existe, vive e pulsa, Cova Gala parece não ter
tido passado, nem presente para quem foi o mentor da elevação a Vila de S. Pedro e não Cova e Gala - como deveria ter sido, por respeito ao passado e ao sentir dos descendentes dos ílhavos que fundaram, primeiro a Cova e, cerca de 40 anos depois, a Gala.
Contudo, para mim e certamente para muito mais gente, a Cova Gala não está morta - apesar de não ter monumentos edificados com o nosso dinheiro em sítios privilegiados e estratégicos - e muito menos poderemos permitir que se possa assim, tão facilmente, ignorar.
Muito embora sem nome no mapa, nem monumentos, a Gala está bem situada. Fica do lado sul da foz do Mondego. E, como as terras que seguem um rio até ao mar, é um prolongamento do Cabedelo – ou seja, aquele cabo de areia que se forma à barra dos rios. O lugar, chama-se Gala. É uma aldeia de pescadores. Ao fundo
e antes das dunas, que a separam do grande areal da praia, junta-se intimamente
– quer dizer: sem uma nítida separação – a um lugar que tem o nome de Cova. Os dois lugares estão ao mesmo nível – o das águas do mar - e formam a Aldeia.
Do lado norte, há uma cidade e essa, sim, vem registada nos mapas de
terra e nas cartas de mar – chama-se Figueira da Foz.
Embora queiram apagar a
Cova e Gala - a nossa raiz - como demonstrei em 7 de Dezembro de 2009, o que
não existe é a Vila de S. Pedro.
Cova Gala é uma Terra com história e memória. Não nasceu em 1993.
A Cova e a Gala, têm origem na fixação de pescadores, oriundos de Ílhavo, nas dunas da praia da Cova, por volta 1750/1770.
De acordo com alguns documentos, estudados pelo único Homem que realizou verdadeira pesquisa histórica sobre as origens da Cova e Gala, o Capitão João Pereira Mano, tempos houve em que pescadores naturais de Ílhavo, desceram a costa portuguesa à procura de peixe e água potável que lhes permitisse a sobrevivência.
Sediaram-se na cova de uma duna, um local a que passaram a chamar de Cova.
A Gala, é uma povoação mais recente, nasceu cerca de 40 anos depois, quando alguns dos pescadores se deslocaram para nascente e ergueram pequenas barracas ribeirinhas, para recolha de redes e apetrechos de pesca.
Apesar do passado de cerca de 250 anos destas duas povoações, a Freguesia de S. Pedro é recente, foi criada em 1985.
A Aldeia, não pode ser uma Terra onde não se saiba de nada, a não ser o que é
filtrado pelo poder.
Os covagalenses têm o direito a saber mais do que o que mais
convém aos políticos.
Nem tudo pode ser eliminado. É também para isso que mantemos este espaço há quase 10
anos, onde a luta pela reposição da verdade histórica vai, naturalmente,
continuar.
Cova e Gala vão continuar a ter corpo e alma.
Um Povo que não consiga preservar o seu passado e as suas raízes não tem futuro. E a Cova e a Gala são detentoras de um passado de que todos nos devemos orgulhar e que temos de saber preservar, com rigor e com verdade, e não ao sabor conjuntural dos interesses politiqueiros, seja de quem for.
A Cova e Gala de hoje está diferente - e nem tudo foi para melhor. Lembrar o passado sem nostalgias é a melhor forma de preservar as raízes.
A preservação da memória da Cova Gala está em risco.
A incultura, sempre que potenciada pela arrogância, leva a resultados desastrosos. Os danos já estão à vista.
A história mostra que políticos sem ideias constituem um verdadeiro perigo...