Quem por aqui tem passado, certamente já percebeu que não sou adepto “de todos ao molho e
fé em Deus”, seja na política ou na religião.
No entanto, acredito na bondade, na
generosidade, na tolerância, venero a beleza da natureza, gosto da
vida, sobretudo, procuro olhar para as pessoas com respeito – em
especial, para aquelas que começam por se respeitar a elas próprias
no quotidiano.
Desde muito novo que entendo que é para
contribuirmos para que a vida de todos seja melhor que vale a pena
viver.
Não sei – pelo menos eu ainda não
descobri - se existe alguma linha política ou religião que torne isto
possível. Não sei - nem isso me interessa - pois não tenho
necessidade de fazer parte de nenhum “rebanho”.
Não tenho
palavras que me hão-de guiar um dia - que o mesmo é escrever, não tenho guiões... - e não gosto
de caminhar por carreiros.
Gosto – sempre gostei - de optar pelo
trilho que considero o meu, de fundamentar a opinião com o que
aprendo no estudo e com o que vou aprendendo com a experiência vivida.
Depois, analiso e comparo a prática de
quem acede ao poder, com o que foi deixando pelo caminho enquanto
preparava o assalto ao cargo político.
Tem acontecido o óbvio: os políticos,
que antes de lá conseguirem chegar, fizeram parte dos meus
conhecimentos, deixaram de me conhecer...
Sem me isentar de defeitos, tenho
constatado que essa gentinha é grotescamente banal. No lugar de uma
consciência moral, muitos possuem uma vertigem narcísica que tudo
absorve e exige aos outros.
Depois, os actos de mentira, logro,
ocultação, são mera predação desprovida de grandeza, causando
dano apenas aos outros. Para eles ficam as mordomias e os
privilégios. Estas criaturas menores pensam que são portadores de
imunidade total e, por isso, não suportam quem não pense
exactamente como eles.
Olho para isso e vejo uma tragédia
moderna, um espectáculo vil e uma miséria sem conceito que está a
penalizar tudo e todos.
O 25 de Abril foi uma coisa boa, disso
não se pode ter dúvidas. O PREC, as nacionalizações, o que se
passou antes do 25 de novembro, era inevitável que acontecesse:
vivíamos um período transitório, com diferentes facções a querer
tomar o poder, é normal que um período desses traga dissabores a
alguns.
De facto e na realidade, para ser politicamente
correcto, antes do 25 de Abril vivíamos numa ditadura.
Nunca tivemos economia a sério, nem uma
verdadeira política de desenvolvimento económico.
Portanto, o gatinhar da democracia e o
que veio a seguir e continuou até aos dias que passam - o
servilismo deslumbrado de uma classe política pouco culta – tinha
de dar nisto...
A seguir ao tempo de um proteccionismo
caduco e em grande parte falido (antes do 25 de Abril) seguimos para
um período de euforia despesista, gerida por gente que não estava
preparada para governar.
O período mais nefasto para o País, pós
25 de Abril, a meu ver, foi o período cavaquista.
A troco de fundos e subsídios, Cavaco
Silva aceitou acabar com o que restava de tecido económico português
e inviabilizou o que podia nascer e prosperar em sustentabilidade.
Fechou
a indústria, acabou com a frota pesqueira, pôr os campos agrícolas
em pousio... O que é que poderia acontecer de mais
negativo a um País que estava a percorrer os primeiros passos no
caminho da democracia e do desenvolvimento moderno?...
Um País não tem futuro com políticos
de aviário, tipo pessoal das jotas, amigos de amigos de amigos, pessoal
do avental, ex-autarcas em fim de carreira, funcionários de bancos
puxados para lugares cimeiros nos partidos, advogados ao serviço e
avençados de toda a espécie... Enfim, gentinha que cultiva o chico-espertismo e a demagogia em vez de cultura política.
E como o texto já vai longo, termino
com uma interrogação que, tal como a reflexão acima, me foi sugestionada após a leitura da crónica do vereador Somos Figueira, Miguel Almeida, publicada hoje no jornal AS BEIRAS: olhamos para a Figueira e vemos a tomar
conta dos destinos do concelho, gente com maturidade política, com
sentimento de servir, com cultura política democrática, com competência e com experiência de gestão?