A poluição está a dar cabo da nossa qualidade de vida. Não podemos continuar a destruir o legado que recebemos.
A crónica que abaixo transcrevo, ontem publicada no jornal AS BEIRAS, com assinatura de João Vaz, merece ser lida com toda a atenção.
"A criança regressa a casa de uma festa da Escola. A cara está cheia de “brilhantes”, chamam-se “purpurinas” ou “glíter”. Os pedaços de plásticos incrustados na pele da criança podem ser uma mistura de copolímeros, folhas de alumínio, oxicloreto de bismuto e outros materiais de cores iridescentes para refletirem a luz. Esta constelação de químicos é perigosa, se acidentalmente ingerida ou em contacto com os olhos. Após a lavagem da cara da criança, as purpurinas “transformam-se em microplásticos” que vão seguir pelo esgoto e acabar no mar. O tamanho minúsculo destes plásticos, menos de 5 milímetros, vai literalmente encher a barriga dos peixes e dos animais aquáticos. O plástico vai “saciar o peixe”, que perde vontade de comer por ter a sensação estômago cheio, e morre de fome. Algumas estimativas apontam o número de 51 trilhões de partículas de microplásticos nos Oceanos. Esta é uma ameaça global, a prevalência de plásticos nas cadeias alimentares com consequências imprevisíveis. Por exemplo, o plástico no mar atrai bactérias de estirpes agressivas que aí se desenvolvem. Determinados tipos de plásticos (PET, PVC) quando se decompõem libertam substâncias cancerígenas, acumulando-se em animais e pessoas. A lista de efeitos secundários do plástico é extensa. No Reino Unido estuda-se a possibilidade de banir as purpurinas, ou optando por alternativas biodegradáveis, para evitar este tipo de poluição."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário