Quem tem acompanhado com alguma atenção a política na Figueira, no pós 25 de Abril, tem verificado a degradação interna dos partidos do arco do poder: PS e PSD.
Fomos andando, governados pelo PS, depois pelo PSD, até que chegámos à maioria absoluta, de dimensões raras, de João Ataíde.
A situação actual ficou a dever-se a políticas de gestão do concelho acertadas, ao progresso, à transparência e à eficácia na gestão da coisa pública?
A meu ver, não, longe disso.
João Ataíde cedo percebeu como os valores mudaram, numa terra a viver um ciclo de dificuldades económicas, sociais e culturais, sem comunicação social crítica e com partidos da esquerda que se recusaram a renovar-se.
Na Figueira da Foz não há debate político, há o diz-se diz-se, há a conversa de café, há o comentário anónimo e há o mercado do voto.
Os votos compram-se. Numa cidade, onde cerca de metade dos votantes se abstém, os eleitores que dependem da mãozinha camarária são suficientes para, acrescentando à base eleitoral do PS, conseguir uma maioria absoluta.
Temos, por exemplo, os fornecedores por adjudicação directa, que sabem que beneficiam de uma preferência que tem o seu preço, os jovens subsidiados, os funcionários da câmara, os empresários locais que vivem da generosidade camarária, os jornais que dependem de anúncios camarários, os activistas associativos que não podem desagradar aos donos disto tudo, pois a sua agremiação é subsídio-dependente...
Depois, ainda temos a pouca vergonha de políticos locais que não hesitaram em trair os seus para se venderem a troco de mordomias, para eles próprios ou para os seus familiares. A somar temos o medo. Como cereja em cima do bolo, ainda temos os esquemas manhosos para limitar a participação dos cidadãos nas sessões da Câmara Municipal.
Quem manda no PS, na Figueira, neste momento tem tudo na mão e utiliza-o em seu benefício próprio e da sua entourage: existe medo generalizado, um eleitorado dependente da generosidade municipal, um jornalismo genericamente obediente, empresas que vivem de adjudicações arbitrárias e sem concurso.
Se querem saber o que significa asfixia democrática não deixem de visitar a cidade da Figueira da Foz no ano da graça de 2018, quase 44 anos depois do 25 de Abril de 1974.
Quanto ao futuro - do PS,da Figueira e dos Figueirenses - não se preocupem.
Continuemos a ter uma visão do futuro esperançosa, embora tenhamos muito poucos motivos para isso.
Mas, comos somos optimistas por natureza, vamos continuar a esperar melhores dias. Depois, também não existe, estatisticamente falando, razão consistente e racional, para jogarmos no euromilhões e continuamos a jogar.
Há que continuar a apostar então num futuro melhor para a Figueira...
O euromilhões também só sai a quem joga...
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