Agora, quando se telefona para qualquer sítio, é hábito colocarem uma musiquinha irritante para queimar tempo. Normalmente, apanhamos a música clássica ou os últimos êxitos da música portuguesa.
Está na altura de responder a esta pulhice.
O facto de Portugal estar em crise não devia ter sido motivo para anular tudo o resto.
A hipocrisia da direita não tem limites e ainda pode vir a ser um tiro no próprio pé.
Não discutir o que nos levou até aqui, e discutir apenas a crise, é tornar a crise ainda mais prolongada: a crise passa a ser não só económica, política e social, mas também de carácter, de atitudes e de discussão democrática.
Chegados aqui, isto é, a “uma situação como aquela em que está a economia”, este "é o escudo, inatacável pelo senso comum, atrás do qual se escondem os patrões e os accionistas sem escrúpulos, que o exército de desempregados, mão-de-obra barata e força de pressão sobre quem trabalho e tem emprego razoavelmente remunerado, se dispõe a aceitar como dogma e que serve para manter largas franjas da[s] população[ções] no limiar da pobreza e da sujeição, porque a barriga vazia, a sua e a dos seus, vale o que vale e vale muito. Perguntem aos vossos pais e aos vossos avós e perguntem também o que já ouviam dizer aos pais deles e aos avós dos pais e assim sucessivamente, desde sempre, desde tempos imemoriais e em todas as ocasiões, perguntem."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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