quarta-feira, 16 de outubro de 2024

António Guterres é mesmo um cobarde?

Luís Osório

«1.
Do alto da sua pena, João Miguel Tavares, decretou no jornal Público uma verdade absoluta sobre António Guterres.
A propósito das posições do Secretário Geral das Nações Unidas acerca da guerra no Médio Oriente, posições que legitimaram a condenação de Israel, o cronista escreveu a certa altura:
“Não há grandes políticos sem coragem. António Guterres nunca será um grande político”.
2.
O cronista é um dos melhores a pensar à direita.
Inteligente, preparado, excelente a manobrar as palavras e a retórica através da escrita, João Miguel Tavares é de leitura obrigatória.
(sobretudo nos muitos textos em que não estou de acordo)
No entanto, é quase patética a maneira como determinadas pessoas se colocam à margem do mundo, numa bolha sem qualquer adesão à realidade e com uma visão hiperinflacionada do seu próprio poder e importância.
Este caso é bastante paradigmático.
3.
João Miguel Tavares fala da falta de coragem de Guterres.
A falta de coragem de condenar veementemente os que atacam Israel, a falta de coragem de não estar acintosamente do lado dos bons, dos que defendem a democracia.
Escreve com uma superioridade moral e intelectual que faz parecer ser um paladino da coragem e da heroicidade.
Quem o lê é capaz de o confundir com alguém que arriscou verdadeiramente o “coiro” em algum momento da sua vida.
Falar da coragem de alguém como Guterres, sobretudo nestas circunstâncias, tendo como cartão de visita uma vida passada em frente a um computador a educar-nos para a beleza do liberalismo puro e duro, é de bradar aos céus.
4.
Podemos discutir se nesta altura Guterres é o homem certo na ONU.
Podemos discutir a sua eficácia.
Podemos discutir a sua independência.
Podemos até falar da sua incapacidade para ser influente e decisivo.
Mas falta de coragem?
É falta de coragem não ter um discurso marcadamente pró-israelita?
É falta de coragem quando fala contra a corrente dos que aplaudem de pé Benjamim Netanyahu?
É falta de coragem quando se mantém firme nas suas convicções sendo pressionado em cada minuto pelos poderes que o sustentam?
O João Miguel Tavares faz “puto” de ideia das pressões que António Guterres recebe todos os dias?
Das promessas de ajuste de contas, do peso dos insultos, das cartas, dos telefonemas?
Falta de coragem por afrontar Israel naquilo que Israel considera serem os seus termos?
António Guterres tem mais do que se preocupar e não precisa de defensores, mas é chocante quando lemos uma coisa assim.
Não é correto.
E não é sério.
Tomara o João Miguel Tavares ter metade da coragem do secretário geral das Nações Unidas.»

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