À beira do Mondego,
penso num segredo,
tomo um café
e, com fé,
deixo soltar um desejo.
Não demores Liberdade!
És uma necessidade.
À beira rio,
passa o frio,
passa o tempo quente,
passa a vida,
passa gente
sofrida,
que não passa da cepa torta,
por viver numa cidade quase morta.
Minha Figueira:
para mim,
é triste viver assim!
Ao Mondego, porém, ninguém o vai parar!
Sem descanso ruma ao mar.
Esse mar que na alvorada,
pode dar tudo, ou não dar nada.
O Mondego, rumo ao regaço do mar,
vai continuar a passar...
Resta o sonho de ele nos amar.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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