foto António Agostinho |
Daniel Santos, hoje no jornal AS BEIRAS.
Nota de rodapé.
A propósito de tranquilidade, dado que estou bem disposto e tranquilo, aproveito para vos deixar uma história, que esteve recentemente novamente na ordem do dia a propósito da morte de Mário Soares.
A história é sempre contada pelos vencedores.
Foi assim que aconteceu em Portugal ao longo da sua secular história. Foi assim que aconteceu em Novembro de 1975.
Os “fazedores da verdade” insistiram e persistiram na ideia de que Cunhal queria impor uma ditadura soviética em Portugal a seguir ao 25 de Abril.
Apesar disso não passar de um famigerado “se”, o facto é que continua a fazer o seu caminho, tal a força dos “média” e o empenho dos "comentadores oficiais do regime".
Pergunto-me, ainda hoje, se no quadro de guerra-fria, então existente, entre os EUA e a União Soviética de 1975, não terão sido os americanos e os ingleses, os amiguinhos de Mário Soares, que o manipularam (ao Soares) e fizeram sobressair a ideia de que Portugal seria a nova Cuba da Europa, até como forma de mostrarem aos Russos e ao mundo que eles, os capitalistas, estavam a recuperar e a ganhar terreno, tal como aconteceu.
Cá por mim, que vivi os acontecimentos ao vivo e a cores, continuo convencido que Cunhal sempre quis implementar a democracia parlamentar em Portugal - de esquerda, evidentemente.
Registe-se, a bem da verdade, a influência que Cunhal teve no 25 de Novembro ao desaconselhar uma guerra civil em Portugal.
Cunhal, em Novembro de 1975, respeitou os portugueses, foi tolerante: aceitou com tranquilidade a vontade do povo, apesar de saber que esse mesmo povo já estava contaminado pelo vírus daquilo que ele designava por contra-revolução.
Cunhal, a meu ver, é, com todo o mérito, uma grande figura da nossa história.
Não por ser ditador, que nunca o foi, não por ser um tirano, que nunca o foi, mas sim porque esteve sempre ao lado dos que sempre sofreram - os explorados e oprimidos.
Cunhal, tinha convicções - lutou por elas. Cunhal, tinha um sonho de liberdade - e bateu-se por ele.
Com armas?..
Todos sabemos que não - com paz e tranquilidade.
Lutou a vida inteira - e começou muito antes do 25 de Abril de 1974.
Um homem destes merecia outro país? Claro que merecia.
Mas, era Portugal que ele amava e que o fazia sonhar.
Muitos figueirenses mereciam outra Figueira.
Claro que mereciam.
Mas, é esta que temos - e é esta que temos de continuar a tentar mudar.
Com tranquilidade. E com serenidade - mas, talvez, sem toda a serenidade...
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