Considero que a propalada crise do jornalismo não é real. Como pode estar em crise algo que não existe? Hum? É como dizer: “ – Olha, aquele dinossauro está co’ a gripe.”
O jornalismo não existe quando o jornalista d-existe. O jornalismo não existe quando o jornalista não r-existe. De quê e a quem? Do aturado esforço e ao fedelho economês que o patrão nomeou director, por exemplo. Hoje em dia, parasitam as redacções os servis sicários que mataram as notícias para parir os conteúdos. É a praga das sinergias, a maleita dos empreiteiros/merceeiros donos de jornais. Por todo o lado, são analfabetos funcionais a mandar em quem escreve. Gagos mentais a editar o que se diz. Cegos voluntários a dar que ver. Com isto, jornais, rádios e televisões involuíram para monturos de lixo auto-reciclável que, todo o santo dia, esvaziam de qualquer préstimo todo o amanhã que, hoje, tresanda a ontem.
Ter sido ou não ter sido penalty esmaga ou não esmaga, em presença & relevo, o desemprego real? Esmaga. A última do presidente-da-bola é ou não é mais premente do que o esvaziamento curricular do ensino? É. O sufoco fiscal de trabalhadores & empresas vale alguma coisa face aos debates quadrangulares da recente jornada da Liga? Vale nada.
Reitero: a crise do jornalismo não é real porque o jornalismo é irreal e porque a crise é decalcada da financeira de 2008. O cavador deixa de ser jornaleiro no dia em que for tão dono da enxada como do chão em que a crava. Jornalistas, hoje em dia? Bah, jornaleiros! Acomodados a soldo de caciques (nacionais como multinacionais, de Lisboa como regionais – note-se bem), o escrevente verga o espinhaço gelatinoso ao frete – conseguindo do autarca parlapatão a publicidadezinha nojenta capaz de pagar a água do autoclismo. E aí vai ele de cuspinhar em Microsoft Word o marketing da promoção pessoalizada do fabricante de torneiras local. É vê-lo de microfone a louvaminhar por todo o lado “aqueles que se amamentam da Pátria”, meu bom Jacques Prévert.
Foi felizmente breve a minha incursão pelo jornalismo remunerado. Todavia, não foi por ignorância minha que (re)conheci pouquíssimos jornalistas – foi porque eram e continuam a ser poucos os que merecem esse título profissional. Lisboa era um nojo: campeavam os génios esquecidos, as luminárias do croquete, os amásios da fonte-inventada; grassava a cáfila dos romancistas embrionários tipo Nobel-para-a-semana, dos poetas desiquilibristas, dos guionistas de têvênovela. Coimbra? Jesus Senhor, Coimbra! Mais doutores por metro (como eles) quadrado do que honestas pulgas em cão solto. O Porto? Não sei, passei por lá a caminho de Braga mas retornei de barco até à Figueira da Foz. Aveiro & Viseu? Mas isso existe? Leiria? Não queirais que Vos fale de Leiria. Invoco razões higiénicas. Onde o jornalismo sério for embondeiro, Leiria é logradouro de erva rala. Daninha, naturalmente.
Não, não reconheço nem crise nem jornalismo. O que por aí se faz – é lama da digestão. Restos-zero à esquerda & à direita. Sabujices de obra-nada. Coisas de meter em saco plástico a caminho do contentor mais perto de si. Rácio de dez opinadores bêbedos por cada jornalista sóbrio. Terraplenadores da democracia, papagaios da cotação-em-bolsa que estão para os mercados como os freudianos para as mamas da própria mãe.
Ná! Crise nenhuma, jornalismo quase nenhum. Que me resta? Resta-me O RIBATEJO. Resta-me O RIBATEJO porque aqui a enxada é minha. A enxada é minha e o chão é nosso. Sim, o mesmo chão por onde ontem o dinossauro e hoje a gripe.
MAS QUAL CRISE DE QUAL JORNALISMO QUAL QUÊ, um a crónica de Daniel Abrunheiro, que "precisaria de um lençol para dizer o que pensa & sinte acerca deste assunto. Mas o que está, fica. Quem, da leitura desta crónica, concluir que a dita nasceu da frustração e/ou do falhanço, conclui mal. Se nela, todavia, topar certa amargura - não topará mal."
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