sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A vida...

"Os heróis sempre fizeram parte da vida da maior parte das pessoas, um jogador de futebol, o pai, ou uma qualquer a personagem da banda desenhada, o Super-Homem ou Mandrake, conforme os gostos. A televisão veio tornar mais elástica a fila, a montra que é apresentada todos os dias. Subliminarmente vão-nos sendo mostrados chefes, pensadores, economistas, políticos, como os exemplos maiores e melhores de heróis, exemplos a serem seguidos por todos nós, meros números deste mundo de formigas. Pela parte que me toca, tenho para mim que ser herói é coisa diferente e voto, desde já, em duas categorias: os pescadores e os bombeiros. 
São seres como nós, não deitam fogo pelas mãos, não voam, não se teletransportam, não se tornam invisíveis, não mudam de forma, mas trabalham em condições difíceis para nos trazer alimento, com baixos salários, e pouca segurança, defendem-nos do fogo, salvam bens e haveres, até são parteiros, quando necessário. Outros poderia acrescentar, como os mineiros e os polícias, mas será assunto para outra crónica."

Crónica de António Augusto Menano, escritor, hoje no jornal AS BEIRAS.

Em tempo.
Tantos heróis que morreram na Figueira e poucos dias depois não lhes lembramos sequer os nomes nem a gesta. 
São os heróis desconhecidos. Os heróis do quotidiano. As pessoas vulgares que conhecemos e que ninguém mais, na realidade, conhece.

Todos temos projectos sem fim e grandiosos. 
Tudo marcha, porém, à medida da nossa grandeza ou da nossa pequenez.
Todos somos candidatos a heróis numa cidade que criou tantos heróis com pés e ideias de barro. 

Só há um tipo de riqueza: a nossa própria. 
Um só tipo de liberdade: a de conseguir vivê-la, impedindo que nos apertem o colete de forças em que vivemos.
Libertadores somos das nossas responsabilidades. 
Quando deixamos morrer a nossa liberdade individual, a cidade perde e morre também com a nossa incúria. 

A Figueira é assim. Uma cidade que tem vindo a morrer em paz. 
Podre.
Estamos mergulhados num coma profundo de que poucos se dão conta. Vivemos numa cidade que apesar de ter um bonito pôr do sol, vive sem horizonte, mergulhada na desesperança sem fim. 

Continuamos a morrer em paz. 
Podre.
De quem é a culpa? 
Como sempre, de todos e de ninguém! 

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