"A população de Santo Amaro da Boiça, Figueira da Foz, está indignada após encontrar roupas de duas crianças - uma sepultada há 37 anos e outra há 18 - fora das campas. O caso foi detetado após obras, feitas por uma firma contratada pela junta de freguesia, para resolver o problema da falta de espaço no cemitério. "Atiraram as roupas com as cinzas dos anjinhos contra o muro", grita Maria da Luz, familiar. Maria de Lurdes, que é proprietária de uma das sepulturas, diz que gritou todo o dia. Os sinos da aldeia tocaram a rebate e foi chamada a GNR. Rui Ferreira, presidente da junta, diz que foi um lapso da empresa e já contactou as famílias para tentar minimizar o choque."
Via Correio da Manhã
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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