Oxalá valha a pena o esforço...
A ironia atinge apenas a inteligência.
Inútil, pois, desperdiçá-la com os que estão longe do seu alcance. Contra estes ainda não se conseguiu inventar nenhuma arma.
A burrice é invencível.
De qualquer maneira, é com todo o gosto que transcrevo a tua crónica "Primavera Silenciosa", hoje publicada no jornal AS BEIRAS.
"Uma advertência inicial.
O seguinte texto é tão irónico quanto sério.
Exmos. Srs. presidente de junta, caros técnicos, vereadores e presidente da câmara municipal, a utilização de herbicidas para queimar as ervas daninhas nas valetas do concelho é uma atitude de grande coragem. Mostra que os senhores não se deixam intimidar pelo “politicamente correto” dos “verdes”.
Mas, alguém acredita que os herbicidas libertam venenos que fazem mal à saúde?
Isso é conversa fiada de gente que nunca tem que tomar decisões, só sabem criticar.
As valetas devem ser pulverizadas com herbicidas, para fi car assim castanhas, avermelhadas, todas queimadas, e para que as ervas não se vejam.
Os herbicidas causam cancro? Mas alguém provou essa relação? E por acaso os responsáveis públicos são tolos e não sabem o que estão a fazer? Há até biólogos, engenheiros e doutores no executivo camarário. Então eles iriam usar substâncias que envenenam o solo e matam as “joaninhas”? Biodiversidade? Mas, que é isso? Aqueles herbicidas são seguros, certifi cados por “outros cientistas”, usados há décadas. Queimam tudo, até o lixo (plásticos, latas) vai desaparecer, permitindo que a água da chuva passe. E é uma quantidade tão pequenina, umas centenas de litros de agro-tóxicos usados no concelho, o que é isso comparado com o que é usado na agricultura?
“Peanuts”.
E mais um cancro da mama ou da próstata, que diferença é que faz, temos que morrer todos de alguma coisa, não é verdade?"
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário