Podem ameaçar com núvens negras ou a vinda de dilúvios,
que não há problema, pois sabemos nadar.
Podem ameaçar com processos de intenções ou apertos,
que não problema, pois não nos vão conseguir prender.
Podem tentar comprar o silêncio ou ameaçar com a mordaça,
que não há problema, pois não nos vão conseguir calar.
Podem ameaçar com a força bruta,
que não há problema: pelo medo não nos silenciam, nem nos hão-de conseguir vencer.
Como escreveu Pablo Neruda, esse sim Poeta:
Morre lentamente quem evita uma paixão.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário