Joaquim Namorado e Guilhermina Namorado no dia do seu casamento. Coimbra, 1942. |
A
vida e o percurso de Joaquim Namorado decorreram num contexto e num
tempo difícil: o Portugal fascista do século XX,
tempo em que se agravaram as condições de vida do povo português.
As
migrações rurais, na maioria no sentido de Lisboa, têm um peso
enorme na vida do país. A instabilidade política e a guerra civil
de baixa intensidade que se arrasta agravam a situação. A crise
financeira, o advento do Estado Novo, a concentração capitalista
têm consequências pesadas, fazendo com que os anos 30 e 40 do
século XX em Portugal sejam de grande crise e pobreza para o povo
português.
A
situação das classes mais desfavorecidas, dos estratos mais
vulneráveis da população era de tal maneira complicada e difícil
que não podia deixar de chamar a atenção dos intelectuais daquele
tempo em Portugal. Mais do que uma corrente intelectual, do que uma
resposta a este ou aquele movimento artístico, mais do que a
expressão de uma força política, o movimento neo-realismo foi a
expressão de uma solidariedade, de uma tomada de posição perante o
sofrimento agravado do povo português. Mário Dionísio disse que
apareceu espontaneamente, não por encomenda deste ou daquele.
Impôs-se o sentimento de dar conteúdo à arte, como demonstram as
polémicas sobre o primado do conteúdo ou da forma na arte, bastante
acesas e de inegável interesse.
Um
observador atento, sem ideias pré-concebidas, confirma com
facilidade que o âmbito do neo-realismo é bastante mais vasto do
que muitas vezes se apresenta. Figuras como Ferreira de Castro,
Aquilino Ribeiro e José Rodrigues Miguéis produziram obras que
devem ser consideradas como fazendo parte da literatura neo-realista,
sem qualquer espécie de dúvida. No cinema, por exemplo na fase
inicial da obra de Manuel de Oliveira, denotam-se preocupações
afins ao movimento.
E,
ao contrário do que alguns tentam fazer crer, o neo-realismo não se
pode reduzir a uma literatura regional, do Alentejo ou do Ribatejo.
Não se pode esquecer a importância da revista Sol Nascente, fundada
por estudantes do Porto e editada naquela cidade de 1937 a 1940, ou
da Vértice, que aparece em Coimbra em 1942, entre outras
publicações. E que o Novo Cancioneiro, também editado em Coimbra
pela mesma altura, incluiu poetas de todo o país. Ainda em Coimbra
são numerosas as publicações próximas do neo-realismo, a maioria,
é verdade, de vida efémera: Altitude, Cadernos de Juventude,
Síntese. Em Lisboa destaca-se O Diabo.
O
neo-realismo cumpriu o papel de denúncia do sofrimento do povo
português. Mostrou o papel que podem ter a arte e a cultura em geral
na luta social e política. Não foi propriedade de ninguém, nem
mesmo exclusivo de Portugal. Foi o contributo da cultura para apoiar
o povo a que seus agentes pertenciam.
É
neste contexto que a obra de Joaquim Namorado tem de ser vista: “um
organizador colectivo, mais do que original; um poeta e um crítico de
obra exígua; um militante que rebatia arte sobre a política e, em
política, queria ser reconhecido pela sua ortodoxia”.
Conheci
pessoalmente Joaquim Namorado, creio que no ano de 1978, devido ao
projecto barca nova.
Em
1982, aparece em 3º. Lugar na lista APU concorrente à Assembleia
Municipal da Figueira da Foz - e é eleito.
Em
1983, por iniciativa do semanário barca nova é lançada a ideia de
uma “homenagem a Joaquim Namorado”.
Realiza-se a homenagem projectada pelo barca nova. Dela faz parte uma
exposição sobre “O neo-realismo e as suas margens”, que depois
será apresentada em Coimbra, Guimarães e Fafe, em versão
simplificada.
O
executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz cria o “Prémio
Joaquim Namorado”, para ser atribuído a contos inéditos,
invocando a acção cultural exercida por Joaquim Namorado no nosso
concelho.
Em
29 de Janeiro é conferida a Joaquim Namoarado a Ordem da Liberdade –
Diário da República nº. 62, 2ª. Série de 16/3/1983.
Seguiram-se
outras homenagens. Recordo que a Assembleia Municipal de Alter do Chão,
sua terra natal, em reunião de 4 de Fevereiro, por unanimidade,
resolve associar-se à “Homenagem nacional prestada a Joaquim
Namorado".
A
Junta de Freguesia de S. Julião, delibera na sua reunião de 14 do
mesmo mês no mesmo sentido.
A
Assembleia Municipal e a Câmara de Coimbra atraibuem-lhe, por
unanimidade, a Medalha de Ouro da cidade.
Por
esse tempo, Joaquim Namorado era um Homem feliz. Por esse tempo, eu,
como elemento de um colectivo que se chamava barca nova, também era
um homem feliz.
Joaqui
Namorado, o Joaquim Namorado com quem convivi e tive a felicidade de
receber a sua amizade, ao contrário do que dizem não era um durão:
era um ser humano do melhor que passou pela minha vida – e a quem
estarei eternamente grato pelo muito que me ensinou.
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