O povo habituara-se a ostras. Com a crise, as ostras estavam
pela hora da morte e todas as diligências esbarravam na inflexibilidade de
Hollande: “Impossível baixar preço moluscos. Disponíveis brioches baratos”. O
MNE declinou a oferta. Em telegrama oficial, citou Álvaro Santos Pereira e a
qualidade superior das nossas bolas-de-berlim. Os franceses, letrados e
mulherengos, confundiram o Álvaro com Álvaro e ficaram-se por respeito a
Ofélia. Foi quando começou a chover.
Assunção, a caminho do Conselho de Ministros, agradeceu a
Deus e abriu o guarda-chuva. À chegada cruzou-se com Relvas, vindo do Rio onde
passara o fim do ano à cata do conhecimento permanente. “Bela gravata!”,
comentou ao passar o engripado Paulo Macedo. Gaspar já lá estava, jogando
batalha naval numa folha de Excel, longe do olhar de Portas não fosse este
susceptibilizar-se e convocar uma conferência de imprensa de apoio ao governo.
Pedro pousou o livro sobre Salazar e falou na sua voz de barítono:
“Se em 1935 beber vinho era dar de comer a um milhão de
portugueses, em 2013 um só copo de leite há-de dar mais de 25% daquilo que
precisamos por dia de cálcio”.
Mas a frase era fraca, nem sequer rimava. Um assessor propôs
que contratassem Graça Moura. Ao lembraram-lhe que o poeta os mandara assoar ao
guardanapo, o assessor suicidou-se politicamente. Com menos um à mesa, a dieta
nacional era adiada para depois do almoço.
Como entrada, uma das ostrinhas de Alice recitou Bocage:
“Estando enfermo um poeta/ Foi visitá-lo um doutor/ E em rigorosa dieta/ Logo,
logo o mandou pôr/ ‘Regule-se, coma pouco’/ Diz-lhe o médico eminente/ ‘Ai
senhor! (acode o louco)/ Por isso é que estou doente.”
Gabaram-lhe o wit e depois comeram-na.
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