Bem, oportunidade, oportunidade mesmo, talvez não seja, até pode vir a ser uma boa merda...
Contudo, o autor da frase, politicamente falando, foi brilhante, pois revelou conhecer bem o povo e o país que governa.
Demonstrou grande cultura política e uma enorme sensibilidade social.
Vejamos algumas janelas de oportunidades imediatas sacadas daqui, que se abrem aos sortudos que tenham a bênção de alcançar o estatuto de desempregado :
- Ir à pesca (se alguém pagar a licença).
- Conhecer melhor a sua cidade (a pé).
- Apanhar beatas do chão (se não for fumador pode pô-las no caixote do lixo ajudando a limpar as ruas).
- Estar à porta dos cafés a conversar animadamente com quem lá está dentro a consumir.
- Alimentar pombos nos jardins (se alguém fornecer o pão).
- Jogar à sueca (enquanto se virem os naipes do baralho e as cartas não se desfizerem).
- Caçar gambozinos (sempre fornecem alguma proteína).
- Vasculhar restos dos caixotes do lixo.
- Pedir moedas à saída das igrejas e hipermercados.
- Arrumar carros ilegalmente.
- Preencher candidaturas de emprego.
- Mandar currículos (se alguém pagar os selos ou a net)
- Oferecer-se para pagar as portagens das ex-scut nos correios (por conta de quem tenha emprego e falta de tempo para filas).
- Fazer um herbário..
- Pentear macacos.
- Medir a velocidade de crescimento dos malmequeres.
- Dormir até mais tarde (enquanto tiver casa onde morar).
Como se nota, oportunidades não faltam...
Basta não ser piegas e ter imaginação...
Sócrates, por exemplo, aproveitou a oportunidade de ter ficado desempregado para ir morar num bairro chique de Paris...
Desempregados, não sejam modestos a sonhar: o céu pode ser o limite!..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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