terça-feira, 22 de agosto de 2023

A atribuição da Ordem da Liberdade a Volodymyr Olexandrovytch Zelensky

Carta Aberta ao Senhor Presidente da República

"António Nogueira de Matos Vilarigues, cidadão com intervenção cívica desde 1969, alguém que aos 17 anos, em Junho de 1971, passou à clandestinidade.

Sou filho do militante do Partido Comunista Português (PCP), Sérgio de Matos Vilarigues, que esteve preso 7 anos (dos 19 aos 26) no Aljube, em Peniche, em Angra e no campo de concentração do Tarrafal para onde foi enviado já com a pena terminada. Que foi libertado por «amnistia» em 1940, quatro anos depois de ter terminado a pena. Que passou 32 anos na clandestinidade no interior do país, o que constitui um recorde europeu. Consultado pelo Presidente da República Jorge Sampaio, recusou receber a Ordem da Liberdade. [i]

Sou filho da militante comunista Maria Alda Barbosa Nogueira, que, estando literalmente de malas feitas para ir trabalhar em França com a equipa de Irène Joliot-Curie, pegou nas mesmas malas e passou à clandestinidade em 1949. Que presa em 1958 passou 9 anos e 2 meses nos calabouços fascistas. Que durante todo esse período o único contacto físico próximo que teve com o filho (dos 5 aos 15 anos) foi de 3 horas por ano (!!!). Que, sublinhe-se, foi condecorada pelo Presidente da República Mário Soares com a Ordem da Liberdade em 1988 [ii]

(Para ler na íntegra esta carta aberta, na opinião do seu autor, "uma análise concreta da realidade concreta, em que a prática é o único critério da verdade", basta clicar aqui.)

Com esta decisão anunciada, o senhor Presidente da República Portuguesa insulta o 25 de Abril, agride os portugueses, humilha os antifascistas.

As atitudes ficam com quem as praticam.

Breves notas finais: que fique claro que nada do que foi analisado justifica a invasão da Ucrânia pela Federação Russa. A invasão russa é criminosa. Viola o Direito Internacional. Torna as populações civis inocentes de toda a Ucrânia – e não desta ou daquela região – reféns de interesses oligárquicos, a oeste e a leste, que tiram proveito da guerra.

São necessárias iniciativas que contribuam para o desanuviamento e que privilegiem um processo de diálogo com vista a uma solução pacífica para o conflito, assim como à promoção da paz e da segurança na Europa, no respeito dos princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia. 

Penalva do Castelo, 20 de Agosto de 2023

António Nogueira de Matos Vilarigues"

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