12 de Junho de 1875 – «Nasce» o Zé Povinho
O «Zé Povinho», uma das mais conhecidas personagens criadas por Rafael Bordalo Pinheiro, é apresentado ao público nas páginas de A Lanterna Mágica, a publicação crítico-satírica que Bordalo dirigiu com Guilherme de Azevedo e Guerra Junqueiro. A melhor definição desta personagem foi dada por Ramalho Ortigão no Álbum das Glórias: «...Crescido, Zé Povinho correspondeu perfeitamente às esperanças que nele depositaram os solícitos poderes do reino. Como desenvolvimento de cabeça ele está mais ou menos como se o tivessem desmamado ontem. De músculos, porém, de epiderme e de coiro, endureceu e calejou como se quer, e, cumprindo com brio a missão que lhe cabe, ele paga e sua satisfatoriamente. De resto, dorme, reza e dá os vivas que são precisos. Um dia virá talvez em que ele mude de figura e mude também de nome para, em vez de se chamar Zé Povinho, se chamar simplesmente Povo. Mas muitos impostos novos, novos empréstimos, novos tratados e novos discursos correrão na ampulheta constitucional do tempo antes que chegue esse dia tempestuoso».
De calças remendadas e botas rotas, primeiro, fazendo um manguito, depois, o «Zé» continua presente na vida nacional.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário