Luís Carlos, cidadão figueirense que não conheço, mas, ao que li no Diário de Coimbra, fiquei a saber que é um atleta que integrou a equipa portuguesa que, na categoria de corta-mato M35, ganhou a medalha de bronze no Campeonato da Europa de Veteranos de Pista Coberta e Corta-Mato, na Bélgica, foi ontem à sessão da Assembleia Municipal da Figueira da Foz e falou…
Lamentou que, mesmo representando a Figueira e Portugal, não tenha tido qualquer apoio, viajando a expensas próprias, pelo facto de não integrar qualquer clube.
E aproveitou para dizer o quanto se sente «desolado», pelo estado a que a Figueira chegou. «A praia está imunda, os contentores cheios de lixo, os passadiços levantados e com falta de ripas». O mesmo se aplica, adiantou, «à Serra da Boa Viagem, às Abadias, onde tudo está cheio de lama e onde não há um único corrimão nas escadas», mas onde existem «casas de banho abertas, onde não vai ninguém», quando, em contrapartida, «as de Buarcos estão fechadas e tinham movimento». O atleta falou ainda na «ciclovia, cheia de interregnos», da inexistência «de espaços para estacionar bicicletas», do rio «subaproveitado», do Forte de Santa Catarina «abandonado e cheio de carros estacionados», entre outros reparos.
Esta intervenção foi “elogiada” até por deputados do PS, com João Carronda a considerar que as críticas «feitas em perspectiva de amor ao concelho, devem ser acatadas».
O dr. João Ataíde, o presidente da câmara, esclareceu que o munícipe «pode dispor de patrocínio, se tiver contabilidade organizada compatível com o procedimento administrativo», que a Serra da Boa Viagem é da responsabilidade da Autoridade Florestal, mas que procurará «intervir», agradecendo que os cidadãos vão dando conta «das fragilidades que encontram».
Quanto à praia, informou ainda o presidente da edilidade figueirense, «estamos num processo de tentar recuperar alguma área territorial a favor do município», e recordou que já decorreu o processo de adjudicação da limpeza. No que diz respeito à ciclovia, «o processo vai ser retomado segunda-feira, para análise de candidatura ao QREN» (evocando o projecto integrado entre os municípios da Figueira, Montemor-o-Velho e Coimbra), e que o assunto «não foi esquecido».
Fica o registo, com o devido agradecimento à jornalista do Diário de Coimbra, Bela Coutinho, pela bela peça jornalística que produziu e pelo relevo dado ao exercício do direito de cidadania exercido pelo munícipe figueirense na reunião de ontem da Assembleia Municipal da Figueira da Foz.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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