"Ainda Trump era um jovem especulador imobiliário e já acreditava que fechar a economia americana e substituir os impostos sobre rendimentos por tarifas aduaneiras era uma boa ideia.
Num país já com um grande problema de
desigualdade, Trump ainda o quer mais desigual. As tarifas aduaneiras são um imposto
indireto, o Elon Musk ou o empregado do
McDonald’s pagam exatamente o mesmo.
Como já foi anunciado, os impostos sobre
os mais ricos (que já eram baixíssimos) e as
empresas são para diminuir. Ou seja, Trump
quer uma oligarquia ainda mais poderosa
paga com os impostos dos mais pobres, uma
transferência ainda maior do que tem acontecido dos mais pobres para os mais ricos.
Conseguiu convencer-se mais de metade
da população de que os imigrantes são um
problema terrível (a percentagem de imigrantes nos Estados Unidos é a mesma que era há
cem anos), que o wokismo era a fonte de todo
o mal, que ressuscitando indústrias mortas
se criavam empregos, e um nunca acabar de
mentiras e meias-verdades. Criou-se a ilusão
de que todas as frustrações seriam aplacadas
com medidas simples.
Agora os americanos vão perceber que foram enganados: os preços vão subir e vão ver
um crescimento de impostos como não têm
desde 1968.
Está o assunto resolvido, dir-se-ia. Os americanos removerão com o seu voto o Presidente.
É aqui que entra a outra parte do plano.
Para implementar planos económicos como
este não se pode ter instituições a funcionar,
nem respeitar decisões de tribunais, nem
permitir que advogados processem o Estado,
nem liberdade de imprensa, nem universidades a produzir pensamento.
Nada pode
funcionar sem a palavra do chefe do poder
executivo, nada pode ser dito contra ele, nada
pode pôr em causa a sua infalibilidade. Ou
seja, exatamente o que se está a passar.
A vontade é a de que quando chegar a
oportunidade de votar – dando de barato que
isso poderá fazer-se sem que as regras tenham sido mudadas – nada exista que depois
possa implementar a vontade popular. Pior,
que fique claro para o povo que a única coisa
que separa a mínima ordem da anarquia é o
Trump, ou, melhor dito, o ditador.
Nada há
mais destrutivo (e criativo) do que a vontade
do Homem e não há regime mais frágil do
que a democracia."
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