quinta-feira, 10 de abril de 2025

Trump e a revolução


"Ainda Trump era um jovem especulador imobiliário e já acreditava que fechar a economia americana e substituir os impostos sobre rendimentos por tarifas aduaneiras era uma boa ideia. 
Num país já com um grande problema de desigualdade, Trump ainda o quer mais desigual. As tarifas aduaneiras são um imposto indireto, o Elon Musk ou o empregado do McDonald’s pagam exatamente o mesmo. 
Como já foi anunciado, os impostos sobre os mais ricos (que já eram baixíssimos) e as empresas são para diminuir. Ou seja, Trump quer uma oligarquia ainda mais poderosa paga com os impostos dos mais pobres, uma transferência ainda maior do que tem acontecido dos mais pobres para os mais ricos. 
Conseguiu convencer-se mais de metade da população de que os imigrantes são um problema terrível (a percentagem de imigrantes nos Estados Unidos é a mesma que era há cem anos), que o wokismo era a fonte de todo o mal, que ressuscitando indústrias mortas se criavam empregos, e um nunca acabar de mentiras e meias-verdades. Criou-se a ilusão de que todas as frustrações seriam aplacadas com medidas simples. 
Agora os americanos vão perceber que foram enganados: os preços vão subir e vão ver um crescimento de impostos como não têm desde 1968. Está o assunto resolvido, dir-se-ia. Os americanos removerão com o seu voto o Presidente. 
É aqui que entra a outra parte do plano. Para implementar planos económicos como este não se pode ter instituições a funcionar, nem respeitar decisões de tribunais, nem permitir que advogados processem o Estado, nem liberdade de imprensa, nem universidades a produzir pensamento. 
Nada pode funcionar sem a palavra do chefe do poder executivo, nada pode ser dito contra ele, nada pode pôr em causa a sua infalibilidade. Ou seja, exatamente o que se está a passar. A vontade é a de que quando chegar a oportunidade de votar – dando de barato que isso poderá fazer-se sem que as regras tenham sido mudadas – nada exista que depois possa implementar a vontade popular. Pior, que fique claro para o povo que a única coisa que separa a mínima ordem da anarquia é o Trump, ou, melhor dito, o ditador. 
Nada há mais destrutivo (e criativo) do que a vontade do Homem e não há regime mais frágil do que a democracia."

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