sexta-feira, 26 de abril de 2024

Confissões do Presidente da República

Marcelo, ‘à nora’ com Montenegro.

«Após oito anos de convívio único com António Costa, o ex-primeiro-ministro que foi seu aluno em Direito, seu adversário nas autárquicas em Lisboa e durante o guterrismo e seu cúmplice na longa coabitação que partilharam entre Belém e São Bento desde 2015, Marcelo Rebelo de Sousa está a habituar-se ao novo primeiro-ministro e, pelo que confessou esta semana numa conversa com correspondentes de órgãos de comunicação social estrangeiros em Lisboa, não está a ser fácil. Se Costa era um “otimista irritante”, Luís Montenegro surge aos olhos de Marcelo como alguém “difícil de entender”, “completamente independente, não influenciável e improvisador”. Aparentemente, menos confortável para um Presidente que adora dominar o jogo e alimentar cumplicidades. E que agora diz que teria preferido poder continuar com Costa como primeiro--ministro até 2026.

“António Costa era lento, por ser oriental. Montenegro não é oriental, mas é lento, tem o tempo do país rural, embora urbanizado. Faz-me lembrar Marcelo Rebelo de Sousa: Montenegro “surpreende, vai surpreender” o antigo PSD”, teoriza Marcelo Rebelo de Sousa, recordando como o PS sempre foi um partido mais de Lisboa e das grandes áreas metropolitanas, enquanto o velho PPD era “o resto do país, sobretudo o Norte e o Centro Norte”. Isso foi há tantos anos (o 25 de Abril já faz 50) que a comparação remete para uma ligação do atual líder da AD a um certo passadismo. Que nem por isso deixa de ser desafiante.

Pelo contrário, parece deixar o Presidente em guarda, sem nunca saber bem o que o espera e sem afastar a hipótese de ser dos últimos a saber.

“Todos os dias tenho surpresas, porque ele é imaginativo e tem uma lógica de raciocínio como sendo de um país tradicional. É estimulante, mas para mim dá muito trabalho”, confessou Marcelo aos jornalistas estrangeiros, que difundiram os áudios da conversa, um mimo confessional em que o Presidente relata como Montenegro convidou os membros do seu Governo em cima da hora — “um risco” —, para evitar fugas de informação, bem como a surpresa do cabeça de lista para as europeias, “tudo muito, muito sigiloso”, o que o leva a concluir que o sucessor de Costa “acredita que é um

erro falar, prefere o silêncio."»

Afinal quem é Marcelo? Ficam algumas opiniões.

1. FRANCISCO PINTO BALSEMÃO: “Marcelo, como o escorpião da lenda, não resiste a matar a rã (…) Algumas pessoas amigas que consultei avisaram-me e tentaram evitar que o convidasse para o Governo: ‘Estás a meter o veneno em casa’ – dizia um. ‘Estás a aproximar-te do escorpião da fábula, e tu serás a rã’ – dizia outro”.

2. PACHECO PEREIRA: “Marcelo é o criador e principal fautor de um jornalismo dos cenários que nunca se realizam, jornalismo apenas especulativo que não leva a lado nenhum e que tem o condão de falsear toda a atividade política”. 

3. BELMIRO DE AZEVEDO (1998): “Marcelo Rebelo de Sousa deveria ser eliminado. Não tem categoria. Que retirem a cadeira a esse senhor".

4. PASSOS COELHO: “Catavento de opiniões erráticas, em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político.” 

5. PAULO PORTAS: "Marcelo é filho de Deus e do diabo, Deus deu-lhe a inteligência, o diabo deu-lhe a maldade.”

6. MARIA JOÃO AVILEZ: “Marcelo tem tomado o espaço da oposição ao governo. E para cúmulo é ele próprio que manda colocar nos jornais conversas a propósito. Toda a gente sabe dos telefonemas e das intrigas. É demasiado interventivo e não percebe que não pode ser ele o líder da oposição, mas comporta-se como tal.”

7. HENRIQUE RAPOSO: “Um presidente que já é sem qualquer dúvida o presidente mais fraco desde 74.” 

8. MIGUEL MONJARDINO: O comentador Marcelo Rebelo de Sousa (M.R.S.) constitui, pelo seu recente comportamento, uma ameaça à credibilidade da instituição da Presidência da República e ao futuro de Portugal (…) Em vez de um Presidente da República, elegemos um comentador com urgência pessoal e compulsão para se pronunciar, instantaneamente, sobre tudo.”

9. ANTÓNIO RIBEIRO (jornalista): “É falso como as cobras. Tem ar de avô bondoso, é beato, não tem vida própria. Mas cospe veneno. Parece que apoia, mas é exímio a puxar tapetes a quem detesta, embora finja apoiar. Olha para as tendências da opinião pública, dia a dia, como oportunidade de negócio (…) Essencialmente, ele não presta (….) Que ninguém confie nele, porque ele é do Antigo e não do Novo.

10. CINTRA TORRES: Marcelo comenta de manhã, à tarde, à noite e de madrugada. Comenta à porta do Coliseu, na rua, nos jardins, na escadaria da Gulbenkian, comenta em Portugal e no estrangeiro, comenta no adro e na praia, no palácio e na feira, no café e no congresso, comenta futebol e o tempo, comenta vivos e mortos, acidentes e festivais – e comenta há 50 anos, desde que entrou para o “Expresso”, onde permanece até hoje, por via de corneta alheia, o principal alimentador e protagonista do diz-que-disse político nacional.”

11. CARLOS ESPERANÇA: «Marcelo é um neto legítimo do 28 de maio e um dedicado enteado do 25 de Abril, não se pode exigir-lhe mais do que a sua natureza consente.»

12. JOSÉ CID (cantor): “O homem não tem tempo para nada, está sempre em qualquer lado, que não é parte nenhuma.”

13. PAULA FERREIRA (jornalista): “Marcelo fala de tudo e, por esse motivo, poucas são as vezes em que fala de alguma coisa.”

14. VÍTOR MATOS NO LIVRO (BIOGRAFIA) “MARCELO REBELO DE SOUSA” – 2012: “Poucas coisas dão mais prazer a Marcelo do que realçar os pontos fracos dos outros, em privado, em público ou no jornal (…) Marcelo é capaz de qualquer patifaria inconsequente (…) Por uma boa piada, Marcelo não se importa de perder um amigo.” 

15. VASSALO DE ABREU: “O Dr. Marcelo desfaz-se em muitos e cai no goto do povão! Ele é como o ”Preço Certo”: Não tem ponta por onde se lhe pegue, mas o povão gosta… Que fazer.”

16. LUÍS PAIXÃO MARTINS: “Marcelo é o chefe General do Estado Maior das forças mediáticas.”

17. J-m NOBRE-CORREIA: “Temos um personagem que há cinquenta anos instrumentaliza compulsivamente os média. Com a “criação de factos”. Com pseudoanálises da atualidade política. Com constantes declarações a propósito de tudo e de nada.”

18. AMADEU HOMEM: “Eu acho o Presidente da República um oligofrénico e um trambolho democrático.”

19. PAULO QUERIDO: “Temos um Presidente da República sibilino e sinistro — o agente político mais perigoso para uma sociedade decente, tolerante, progressista e bem sucedida depois de Oliveira Salazar, capaz de driblar todas as instituições democráticas, a começar por uma das suas especialidades, a Constituição.”

20. TELMO AZEVEDO FERNANDES: "É sabido que temos um Presidente da República que não lida maravilhosamente com a verdade. Tal como um menino traquinas que ainda faz chichi na cama, Marcelo é invariavelmente um palrador fingido, trapaceiro e dissimulado, que não hesita em inventar tretas e tramas, para manipular a opinião pública e tentar intervir de forma desleal e traiçoeira na política nacional."

21. MARINA COSTA LOBO (politóloga): “Marcelo pensando no seu lugar na história, quer usar os poderes que tem para deixar Belém com outro inquilino em São Bento, um primeiro-ministro do seu partido, o PSD.”

22. ARTUR VAZ: “Em tantos anos das conversas de Marcelo, alguém se recorda de uma ideia ou proposta minimamente razoável e consistente que tenha sido da lavra de inteligência tão brilhante?”

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