segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

O mundo ocidental, tal como o conhecemos, está a desaparecer...

O decreto-lei 158/99 proibiu “a comercialização de géneros alimentícios que contenham brindes misturados” em Portugal, dando uma exceção ao bolo-rei “por razões de reconhecida tradição cultural”. Mais tarde, o diploma foi revisto.

A simbologia, a lenda e a real história que envolvem o bolo-rei
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"Por detrás do bolo-rei está toda uma simbologia com 2000 anos de existência. De uma forma muito resumida, pode dizer-se que esta doce iguaria representa os presentes que os três Reis Magos deram ao Menino Jesus aquando do seu nascimento. Assim, a côdea simboliza o ouro; as frutas, cristalizadas e secas, representam a mirra; e o aroma do bolo assinala o incenso.

Ainda na base do imaginário, também a fava tem a sua "explicação". Reza a lenda que, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino. Com vista a acabar com aquela discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no seu interior uma fava. O Rei Mago a quem calhasse a fatia de bolo contendo a fava seria o primeiro a entregar o presente. O dilema ficou solucionado, embora não se saiba se foi Gaspar, Baltazar ou Belchior o feliz contemplado.

Historicamente falando, a versão é bem diferente. Os romanos usavam as favas para a prática inserida nos banquetes das Saturnais, durante os quais se procedia à eleição do Rei da Festa, também designado Rei da Fava. Este costume terá tido origem num jogo de crianças muito frequente durante aquelas celebrações e que consistia em escolher entre si um rei, tirando-o à sorte com as favas.

Este inocente jogo acabou por ser adaptado pelos adultos, que passaram a fazer uso das favas para votar nas assembleias. Dado aquele jogo infantil ser característico do mês de Dezembro, a Igreja Católica decidiu relacioná-lo com a Natividade e, depois, também com a Epifania (os dias entre 25 de Dezembro e 6 de Janeiro). Esta última data acabou por ser designada pela Igreja como Dia de Reis, altura em que algumas famílias, nomeadamente em Espanha, procuram manter a tradição, não só comendo o bolo-rei como aproveitando a ocasião para distribuir os presentes pelas crianças."

Notícias publicitárias da saúde oral: "...o bolo-rei era comercializado com uma fava ou com um brinde de metal ou cerâmica no seu interior. Esta tradição terá sido iniciada na segunda metade do século XIX, quando a receita desta sobremesa natalícia foi introduzida em Portugal, vinda de França.

De acordo com a tradição, antigamente, quem comesse a fatia de bolo-rei que contivesse a fava teria a responsabilidade de comprar o bolo no ano seguinte. Um costume que durante muitos anos divertiu muitas famílias em Portugal. Mas que também deu origem a alguns constrangimentos, tendo sido extinguido pelo decreto-lei nº291/2001  que diz que:

“É proibida a comercialização de géneros alimentícios com mistura directa de brindes.”

O decreto prevê ainda como únicas exceções a esta proibição “os utensílios que se destinem à preparação e dosagem dos géneros alimentícios desde que dessa mistura não resultem riscos no acto de manuseamento ou ingestão para a saúde ou segurança dos consumidores, nomeadamente asfixia, envenenamento, perfuração ou obstrução do aparelho digestivo.” 

Mas que constrangimentos poderiam justificar a proibição de uma tradição secular? Lendo estes parágrafos do decreto, conseguimos imaginar quais.

Os nossos dentes são utensílios perfeitos para mastigar uma série de alimentos. Mas não estão preparados para trincar algo tão rígido quanto uma fava crua e desidratada. Ao longo dos anos, foram sendo partilhadas muitas histórias de pessoas mais distraídas que trincaram o bolo-rei com toda a confiança e acabaram com dentes partidos ou lascados.

Pior que isso, como as favas e os brindes escolhidos eram objetos pequenos, o risco de asfixia era muito elevado, tendo-se registado alguns episódios perigosos que acabaram em pesadelos nas urgências. Postos estes riscos, foi necessário tomar medidas para que a quadra natalícia não fosse interrompida por estas “surpresas” terríveis. 

Então o bolo-rei de hoje em dia não faz mal aos dentes nem é perigoso?

Isso é discutível. Mesmo sem brinde, o bolo-rei continua a ser um dos piores doces de Natal para a Saúde dos nossos dentes e gengivas. Ainda que a massa do bolo em si não contenha muito açúcar, comparativamente com outros doces, o bolo-rei tradicional é ricamente recheado com frutas cristalizadas.

Para além da quantidade de açúcares que estas frutas têm, a sua consistência faz com que adiram mais facilmente à superfície dos nossos dentes, sendo mais difícil remover estes resíduos. O que pode resultar no desenvolvimento de cáries, se os cuidados de higiene oral não forem reforçados e se não usarmos o fio dentário antes da escovarmos os dentes.

Se gosta de bolo-rei, este Natal não deixe de comer uma fatia ou outra para assinalar a quadra. Mas tenha atenção às suas rotinas de higiene oral! Antes de atacar os doces, certifique-se de que não tem problemas em boca, uma vez que tenderão a agravar-se graças aos menus típicos desta altura do ano."

A decadência da sociedade ocidental está aí: "a fava do bolo-rei agora vem à parte embrulhada num papel celofane. Se isto não é a decadência da civilização ocidental não sei o que poderá ser a decadência da civilização ocidental."

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