foto sacada ao facebook do Pedro Rodrigues |
Normalmente é um conceito que, porém, só pensamos que possa ser pensado para as coisas e para os outros!
Nunca a nós. A morte só acontece com os outros. Raramente a imaginamos como possível em nós. Mas não nos devemos preocupar, pois isso, é um sinal de vitalidade.
Este pensamento, assaltou-me hoje de manhã, logo que tive conhecimento que morreu o meu "primaço".
Desde miúdo que me cumprimentava da mesma maneira – “então primaço Tó…”
E, ultimamente, até julho do ano passado, logo a seguir, vinha a pergunta: “como vai a tua Mãe?..”
O "Querido avô" do Pedro Rodrigues era uma figura: “alto; cabelo branco, literalmente, como a neve; forte como um touro - um homem do mar à moda antiga. Daqueles que já não se fazem”!..
Aquilo que podia ser dito, escreveu-o melhor do que ninguém, o neto, o meu Amigo Pedro Rodrigues.
É um momento de morte, mas como tudo o que é escrito pelo Pedro, é belo, embora a perda de um "amor maior", nada tenha de belo!
"Tinhas oitenta e seis anos. A tua cabeça já não encontrava datas – talvez porque os dias já fossem todos iguais. As tuas pernas cediam aos caprichos da gravidade, embora tu nos tentasses enganar com ginásticas inventadas. Os teus cabelos eram brancos, embora tu me contasses que quando eras novo o teu cabelo era escuro como a noite – e eu acreditava. Esquecias-te das luzes acesas, da água a correr depois de fazeres a barba, das situações mais corriqueiras, aqui da terra, mas não te esquecias das histórias de outros tempos. Passavas horas a repetir-me que eras o mais trabalhador de todos. Que as tuas mãos e os teus braços tinham tanta força que conseguiam dobrar aço, talvez mover montanhas. Nos navios todos os capitães te gabavam “não há nenhum marinheiro como o Pimentel”, pau para toda a obra. Foste pai, avô e bisavô...
Hoje, antes de descer para o meu quarto, passei pelo teu. Estava vazio. As lágrimas teimaram em cair porque me apercebi que daqui para a frente assim será. Ficam as fotografias. As paredes frias que ainda escondem os restos condensados da tua respiração, do teu último suspiro. Penso ter apertado pela última vez as tuas mãos calejadas; ter beijado, pela última vez, a pele fina da tua testa. Partirás enorme, como sempre foste. E assim o serás, para todo o sempre. Gostava de continuar a escrever, mas as palavras começam a confundir-se com as lágrimas e tudo se torna turvo e difícil. Fico-me por aqui, e pela imagem da fotografia que dorme ao meu lado, na mesa de cabeceira, em que estou eu, tu e a mãe, muito felizes, de sorrisos rasgados nos rostos. É assim que te recordo: a sorrir, por eu ter chegado.
Adeus, meu amor maior."
Sentidas condolências à família.
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