quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Gostei de ler a crónica “Natal mais ou menos cristão”, de Rui Curado da Silva

“Uma mãe com uma filha menor, desempregada, sob a iminência de ser despejada de casa em pleno inverno, conseguiu manter o domicílio e a sua pequena célula familiar graças à intervenção e ao esforço de várias instituições de solidariedade social do nosso concelho.
No entanto, esta célula familiar era beneficiária do chamado “rendimento mínimo”: 90 euros por mês.
Uma fartura! Quando tomei  conhecimento deste valor, veio-me à memória uma rapsódia de discursos contra o “rendimento mínimo”. Um conhecido intelectual escreveu que os beneficiários do rendimento mínimo que tinham piscinas despoletavam a cólera dos pobres.
Uma jovem licenciada jurou-me que crianças ciganas do rendimento mínimo se exibiam frequentemente com notas de 500 euros.
Uma empregada de uma bomba de gasolina berrava no posto que se fosse primeira-ministra a primeira coisa que fazia era “acabar com o rendimento mínimo a esses malandros”.
Num país supostamente católico, esse discurso populista que atiça pobres contra pobres encontra paradoxalmente terreno fértil. O nosso vice-primeiro-ministro é um dos peritos desse desporto digno das arenas do Império Romano. Já aqui escrevi que não sou crente, mas ainda me recordo do que aprendi na catequese. Não foi nada disto. Já seria um grande progresso se nesta época natalícia os católicos (e não só) combatessem esse cínico discurso populista.
Poderá ser tão útil quanto oferecer um reconfortante pacote de arroz ao Banco Alimentar Contra a Fome.”

Em tempo.
Depois de ler este texto no jornal AS Beiras, até porque estamos numa semana um bocadinho mais crente, lembrei-me daquela espantosa tese hindu: o mundo nasceu como uma ilusão, mas Deus, compadecido das criaturas iludidas, fez com que o mundo se tornasse real.

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