No passado sábado, no Fogueteiro, Seixal, apanhei com um fulano destes num restaurante, à hora de almoço, na mesa ao lado!..
Mais motivado fiquei para a travessia da Ponte 25 de Abril.
“Reformados? Cortem nessa cambada de inúteis que andam a viver à custa do orçamento”; “viúvas? A tomarem chá das cinco e a receberem o dinheirinho ao fim do mês”; “greves? Lá vem essa seita de gente bem remunerada a dar cabo da economia do país. Vejam lá se os desempregados fazem greve?”; Tribunal Constitucional? Bando de socialistas e comunistas que não querem perceber que não há dinheiro para pagar luxos”.
Estes rapazes nasceram fora do seu tempo. Se tivessem nascido há 60 ou 70 anos não precisavam de gritar, como gritam. Viviam na paz e no sossego do seu “ambiente natural”.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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