Ontem,
enquanto viajava de carro, ouvi António Jorge Pedrosa, num programa de rádio da
Figueira da Foz, ter este comentário a propósito de não ter havido acordo para
a tal “salvação nacional” .
Vou
citar de memória: “claro que se tivesse havido acordo sentia-me mais
confortável”, deixou escapar AJP.
Cavaco
teria dito doutra maneira: «Mais cedo ou mais tarde, um compromisso
interpartidário alargado será imposto pela evolução da realidade política,
económica e social do País.»
E
teria acrescentado: «Estou igualmente convicto de que os cidadãos se encontram
agora mais conscientes da necessidade de um consenso entre os partidos que
subscreveram o Memorando de Entendimento.»
António
de Oliveira Salazar, teria comentado assim.
«E
na unidade resultante da sua integração e da concordância profunda dos seus
interesses, ainda que às vezes aparentemente contrários, não há que separá-los
ou opô-los, mas que subordinar a sua actividade ao interesse colectivo. Nada
contra a Nação, tudo pela Nação.»
Em
tempo.
Claro
que não estou a afirmar ou a insinuar que o António Jorge Pedrosa é cavaquista ou fascista. Estou apenas a
alertar para o facto de que esta coisa de comentar em público tem muito que se
lhe diga, mesmo numa rádio local.
Não podemos esquecer o difícil contexto cultural e a triste
e preocupante realidade social e política que vivemos em Portugal, que, aliás, se
agravou nos últimos tempos. António Guerreiro retratou-a bem, no Ípsilon do
passado dia 19:
«A política, naquilo que dela ainda existe, já não são os
partidos que a fazem: são os comentadores os magistrados, os jornalistas etc. Veja-se, aliás, como os homens de partido se
tornam comentadores para saírem do espaço despolitizado e entrarem no espaço –
exíguo, mas o único que resta – da política. Algum governo, nos últimos anos,
se formou com base num projecto de sociedade? Os governos são cada vez mais
técnicos e cada vez menos políticos. Maiorias políticas parlamentares elegem e
apoiam conselhos de administração da empresa-país, que por sua vez nomeiam
burocratas (sempre com uma grande aura de "competência", nem sempre
confirmada) para gerir a coisa pública.»
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