terça-feira, 23 de julho de 2013

O país despolitizado e não ideológico sonhado por Cavaco...

Ontem, enquanto viajava de carro, ouvi António Jorge Pedrosa, num programa de rádio da Figueira da Foz, ter este comentário a propósito de não ter havido acordo para a tal  “salvação nacional” .
Vou citar de memória: “claro que se tivesse havido acordo sentia-me mais confortável”, deixou escapar AJP.
Cavaco teria dito doutra maneira: «Mais cedo ou mais tarde, um compromisso interpartidário alargado será imposto pela evolução da realidade política, económica e social do País.»
E teria acrescentado: «Estou igualmente convicto de que os cidadãos se encontram agora mais conscientes da necessidade de um consenso entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento.»
António de Oliveira Salazar, teria comentado assim.
«E na unidade resultante da sua integração e da concordância profunda dos seus interesses, ainda que às vezes aparentemente contrários, não há que separá-los ou opô-los, mas que subordinar a sua actividade ao interesse colectivo. Nada contra a Nação, tudo pela Nação.»

Em tempo.
Claro que não estou a afirmar ou a insinuar que o António Jorge Pedrosa  é cavaquista ou fascista. Estou apenas a alertar para o facto de que esta coisa de comentar em público tem muito que se lhe diga, mesmo numa rádio local.
Não podemos esquecer o difícil contexto cultural e a triste e preocupante realidade social e política que vivemos em Portugal, que, aliás,   se agravou nos últimos tempos. António Guerreiro retratou-a bem, no Ípsilon do passado dia 19:

«A política, naquilo que dela ainda existe, já não são os partidos que a fazem: são os comentadores os magistrados, os jornalistas etc.  Veja-se, aliás, como os homens de partido se tornam comentadores para saírem do espaço despolitizado e entrarem no espaço – exíguo, mas o único que resta – da política. Algum governo, nos últimos anos, se formou com base num projecto de sociedade? Os governos são cada vez mais técnicos e cada vez menos políticos. Maiorias políticas parlamentares elegem e apoiam conselhos de administração da empresa-país, que por sua vez nomeiam burocratas (sempre com uma grande aura de "competência", nem sempre confirmada) para gerir a coisa pública.»

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