Hoje, aproveitando a folga, fui tomar a bica matinal mais tarde do que o habitual.
Os clientes, ao contrário do que é costume, não estavam a falar de futebol!..
Estranhei… Estavam em silêncio, sem ligar à televisão que falava de Angélico Vieira, mas debruçados sobre o JN a ler esta notícia:
“O Governo está a estudar a possibilidade de lançar um imposto extraordinário ainda em 2011. Segundo o "Jornal de Negócios", deverá anunciar uma taxa especial de IRS, de modo a garantir que as metas de redução do défice negociadas com a troika para este ano sejam atingidas.
A inclusão desta nova taxa deverá recair sobre os contribuintes singulares e será cobrada a título excepcional e de uma só vez. A informação sobre este imposto extraordinário terá sido dada pelo Governo aos parceiros sociais, nas reuniões desta semana. Segundo o "Diário Económico", poderá ser uma cobrança mensal. Para outras fontes, pode ainda tratar-se de uma cativação do 13.º mês. O imposto não figura no programa de Governo.”
Lembrei-me de algo de Gilles Lipovetsky, que li, salvo erro no Expresso, um dia destes, e que dizia mais ou menos isto:
"O mercado tem uma lógica que faz com que não se ocupe de valores. Tem por ideal a rentabilidade, a eficácia, o lucro. A sua motivação é a concorrência. Não há aí valores éticos. Este mundo, de alguma forma, cria o ideal do dinheiro, do sucesso e pode, de certa maneira, ser niilista, porque, quando se trata de dinheiro, quer sempre mais. Não há um fim. É o dinheiro pelo dinheiro. Ganhar por ganhar. E, se não ganhas, morres. A moral não existe nesse terreno.”
Nada de novo, aliás!..
Claro… Mas, nunca é demais recordar.
Para o meu gosto, isto começa a parecer-se demasiado com o que o antecedeu…
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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