Eu: Vó vamos tirar uma fotografia.
Ela: Oh!.. Já não gosto de fotografias.
Eu: Vá lá um sorriso “mulher”…
Ela: Já te disse não quero fotografias, nem gosto de rir.
O mundo parou por momentos. Fiquei mais do que triste. Nunca me tinha negado uma fotografia, e aquele “nem gosto de rir” tinha dado cabo de mim...
Eu: Vá é agora psiu!..
Saca-me deste sorriso e de um par de fixes como nunca tinha visto. Se não bastasse diz-me qualquer coisa do género: “Ah menino a tua exposição é amanhã não é?.. Só tu para me fazeres ir para aqueles lados da Figueira…”
Depois de largos meses de luta a “Mulher da casa” irá voltar a sair. É um sair diferente, um sair que a orgulha certamente, e a mim enche-me o peito de felicidade.
A Beatriz, ontem, foi a primeira a conseguir essa proeza. A dona Dorati foi assistir, no CAE, pelas 21.30, à Gala de Solidariedade a reverter para o Centro Social da Cova e Gala que a neta mais nova organizou no projecto escolar - Área de Projecto. Parabéns Tiz!.
Vó a exposição também é sua. Você uma MULHER DO MAR, porra!..
Notas:
1ª. - Sacado à página do Pedro no facebook.
2ª. - Eu, é o Pedro. Ela, é a avó.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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