“Agora que aconteceu o irreparável, somos todos solidários com o Haiti. Antes, quando os haitianos eram só pobres e explorados pelas mais infames ditaduras, ninguém lhes ligava.
Morreram sabe-se lá quantos, falam em 100 mil… porque as casas lhes caíram em cima com o tremor de terra. Casas mal feitas, com mais areia que cimento, sem requisitos técnicos para zonas sísmicas.
Noutros locais mais afortunados, o mesmo sismo não teria provocado mais do que um pequeno incómodo. Na Califórnia ou no Japão, sismos de grau 6 ou 7 da escala de Richter já não estragam grande coisa. Cai uma ou outra empena e só os muito azarados levam com um tijolo em cima. Em países pobres, daquela pobreza imensa e endémica, morrem aos milhares.
E, agora, já há dinheiro para ajudar, para dar de comer, para criar infra-estruturas, escolas, hospitais… dinheiro que antes nunca houve. E, por isso, o povo continuou ignorante, passivo, marginal, rebanho ao dispor da ganância dos canídeos selvagens a que costumamos chamar lobos. O subdesenvolvimento é tudo isto.”
Via , um blogue do jornalista Carlos Narciso
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
2 comentários:
Tem razão. Ainda mais sintomática e deploravel é a situação de os socorros não chegarem às pessoas porque os políticos estão empenhadíssimos em definir quem manda e, após uma noite de discussão, ainda não chegaram a qualquer conclusão. Razão tem o dr. Fernando Nobre da AMI:-Falta quem dê um murro na mesa. E nos focinhos dos políticos, digo eu.
Não é verdade que um sismo de escala 6 e 7 não destrua os prédios de Kyoto ou Los Angeles. Basta olhar para o registo histórico dos terramotos.
A Ajuda Humanitária tem decorrido bem, dentro do possível num país sem infra-estruturas. Apesar de já terem decorridos 6 dias continuam a retirar-se pessoas vivas dos escombros.
Poder-se-ia fazer sempre melhor, mas discordo da visão catastrófica. É muito difícil actuar num país cheio de armas e com um historial de violência impressionante.
A Ajuda tem sido eficaz e em grande quantidade, o que não aconteceu em idênticos cataclismos anterios (no Pauistão (2007 ou 8 ?); no Irão;...etc.
Os EUA tiveram muitas dificuldades em ajudar os seus em New Orleans /ver filme doc. de Spike Lee
a esse propósito.
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