"O medo", é o sentimento que faz vibrar as almas e que lhes aflora o ódio indisfarçável à pele.
"O medo" é o que os faz passar por cima de qualquer veleidade democrática quando se trata de silenciar o outro lado.
"Esse medo", e uma terrível inexistência de escrúpulos e de dignidade. Só isso pode justificar, ou pelo menos tornar compreensível, os boatos e as mentiras que se contam sobre os que estão do outro lado.
É por "medo" que o individualismo deles venha a ser substituído pelo nosso humanismo.
É por "medo" que o empreendedorismo deles seja substituído pela nossa solidariedade.
É por "medo" que a modernidade deles seja substituída pelo futuro.
É por "medo" que a competitividade deles seja substituída pela nossa cooperação.
É por "medo" que as suas teses velhas sejam destruídas pelo progresso.
É por "medo" de que o homem, transformando o mundo, se transforme a si próprio.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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