“Residir num país estrangeiro, sem os familiares mais chegados, os amigos que deixei e o mar que há três anos não vejo, não é fácil. A língua, apesar de tudo, não é assim um obstáculo tão grande, mas as pessoas, a cultura e o país em si, é muito diferente do nosso pequenino Portugal.Apesar de já me ter habituado a esta nova vida continuo a ter muitas saudades da minha Cova-Gala, do comer da minha mãe, de acordar e sentir o cheiro da terra molhada da manhã, de sair aos fins-de-semana e abanar o capacete nas pistas de dança, de dar as caminhadas pela praia... e da minha família, enfim, socializar mais...”
Este naco de prosa resume bem o que é a saudade, esse sentimento tão português.
Foi extraído do blog “There is a word”, da Covagalense Vanessa Reboca, jornalista nos EUA.
Para ler o texto na totalidade basta clicar
http://thereisaword.blogspot.com/2006/12/bye-2006-welcome-2007.html.
P.S. - Olá Vanessa:
O mar hoje aqui na tua praia está tranquilo.
O ar, apesar de tudo, continua puro e diáfano.
Por enquanto, sopra apenas uma leve aragem que encrespa suavemente a superfície das águas.
A ondas vêm espraiar-se preguiçosamente na areia da tua praia.
O sol ainda permanece envergonhado, mas hoje já nasceu para mim.
Em Junho cá estarás na tua Cova-Gala. Já falta pouco.
As paixões, ao contrário do que dizem, quando imensas, são eternas.
E o que é imenso é eterno.
Cova-Gala, sempre.
O Tio
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
11 comentários:
Então em que ficamos, ó poeta?
O mar está tranquilo ou suavemente encrespado?
carne ou peixe?
Decide-te e sê mais preciso.
É cada um.
Agora tá a dar é poetas
Aos dinos
"Cada um sabe dos gostos que tem
Suas escolhas, suas curas
Seus jardins
Cada um pode com a força que tem
Na leveza e na doçura
De ser feliz."
'Onde ir', Vanessa da Mata
Como é a saudade?
O que é a saudade?
a saudade é da cor do céu quando vai chover?
a saudade é da cor do pôr-do-sol?
a saudade é o comboio, o barco ou o avião que se vai embora?
a saudade tem muitos nomes.
vive em fotos antigas,
em roupas esquecidas num lugar qualquer.
a saudade é um envelope com bordas verde-amarelo.
a saudade não tem telefone.
a saudade chama seu nome no meio da noite,
no meio da rua, quando não tem ninguém.
a saudade é um açoite.
a saudade não mata saudade.
a saudade tem asas,
é uma gota de lágrima,
é irmã do vento..
mas está sempre no pensamento.
Como é a saudade?
O que é a saudade?
à martinha e restantes "poetas"
Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto"
Lobo Antunes
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Aos dinos
É extraordinário. E logo "eu que me comovo por tudo e por nada", um disco do Vitorino só com letras de Lobo Antunes. Se não me engano é de 1992. Muito bom.
Mas neste caso fora do contexto...
Nesse País de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que plas aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-se esse País onde eu nasci!
Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!
Ó meu País de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
Florbela Espanca.
Um beijo de saudades para vocês todos aí em casa.
As saudades que tenho vossas são indiscritíveis.
Vemo-nos em breve.
Vanessa
P.S. Obrigada tio!
Como em todos os inícios de novo ano, a palavra esperança renova-se, isto é, repete-se, e vem à baila em todas as conversas e desejos.
Não andaremos nós demasiado esperançados com a esperança?
A par da esperança anda a saudade, uma e outra, palavras tão Portuguesas, bonitas, sentidas, e que tão bem caracterizam o nosso estado de espírito de sempre.
Somos um Povo de eterna esperança – isto é, eternamente esperançados com a esperança.
Somos um Povo de eterna saudade – somos Portugueses.
Ok, de acordo.
Mas desde que não venham para aqui com angolanos.
Angolano, para mim, ou é turra ou retornado.
Menino dino:
Imagine que este blog só tem aquilo que você gosta.
Imagine que durante meses lê os mesmos posts que você gosta neste blog de que passaria a gostar. Neste momento já sabia tudo de cor de tanto ler. Imagine agora que há um fulano -um ÚNICO fulano- que gosta de ler outras coisas. Umas que são fáceis e acessíveis para você gostar e outras mais complicadas para a sua debilidade intelectual. Este fulano, só este fulano, seria um pesadelo para si...
Ai dino, dino, que tão mal encavado és.............
Este post fez-me chorar... Eu sei bem o que e sentir a falta do que foi tao nosso e que agora vive dentro de nos em forma de recordacao.
(desculpem-me os erros, este teclado eh Ingles e nao tem acentos!)
O urogalo não cantou toda a manhã.
Despida de sentimentos, procuro
os nomes e os mitos. E a grande sombra
da árvore de palma veio pousar
sobre a relva nua e o decepado coto.
Não mais interiorizo a Natureza próxima.
Que o morto aloendro leve consigo
anos de infância e juventude, carícias
do vento, para sempre e em todo o lugar.
O urogalo viria em vez do melro,
cujo corpo sacode o restolho de velhas folhas,
cujo assobio se abafa na hera invasora.
Seria o sinal do último cantor da casa,
o desconhecido urogalo, que apagaria
esta tristeza de nada desejar, aqui e agora,
entre estes cepos, esta terra revolta
e os mortos tão absolutos e esquecidos,
depois de tão eternamente vivos.
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO 1938-2007
retirado do http://portugaldospequeninos.blogspot.com/
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