quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Saudade

“Residir num país estrangeiro, sem os familiares mais chegados, os amigos que deixei e o mar que há três anos não vejo, não é fácil. A língua, apesar de tudo, não é assim um obstáculo tão grande, mas as pessoas, a cultura e o país em si, é muito diferente do nosso pequenino Portugal.Apesar de já me ter habituado a esta nova vida continuo a ter muitas saudades da minha Cova-Gala, do comer da minha mãe, de acordar e sentir o cheiro da terra molhada da manhã, de sair aos fins-de-semana e abanar o capacete nas pistas de dança, de dar as caminhadas pela praia... e da minha família, enfim, socializar mais...”

Este naco de prosa resume bem o que é a saudade, esse sentimento tão português.
Foi extraído do blog “There is a word”, da Covagalense Vanessa Reboca, jornalista nos EUA.
Para ler o texto na totalidade basta clicar
http://thereisaword.blogspot.com/2006/12/bye-2006-welcome-2007.html.

P.S. - Olá Vanessa:
O mar hoje aqui na tua praia está tranquilo.
O ar, apesar de tudo, continua puro e diáfano.
Por enquanto, sopra apenas uma leve aragem que encrespa suavemente a superfície das águas.
A ondas vêm espraiar-se preguiçosamente na areia da tua praia.
O sol ainda permanece envergonhado, mas hoje já nasceu para mim.
Em Junho cá estarás na tua Cova-Gala. Já falta pouco.
As paixões, ao contrário do que dizem, quando imensas, são eternas.
E o que é imenso é eterno.
Cova-Gala, sempre.

O Tio

11 comentários:

  1. Então em que ficamos, ó poeta?
    O mar está tranquilo ou suavemente encrespado?
    carne ou peixe?
    Decide-te e sê mais preciso.
    É cada um.
    Agora tá a dar é poetas

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  2. Aos dinos

    "Cada um sabe dos gostos que tem
    Suas escolhas, suas curas
    Seus jardins


    Cada um pode com a força que tem
    Na leveza e na doçura
    De ser feliz."

    'Onde ir', Vanessa da Mata

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  3. Como é a saudade?
    O que é a saudade?

    a saudade é da cor do céu quando vai chover?
    a saudade é da cor do pôr-do-sol?
    a saudade é o comboio, o barco ou o avião que se vai embora?

    a saudade tem muitos nomes.
    vive em fotos antigas,
    em roupas esquecidas num lugar qualquer.
    a saudade é um envelope com bordas verde-amarelo.
    a saudade não tem telefone.
    a saudade chama seu nome no meio da noite,
    no meio da rua, quando não tem ninguém.
    a saudade é um açoite.
    a saudade não mata saudade.
    a saudade tem asas,
    é uma gota de lágrima,
    é irmã do vento..
    mas está sempre no pensamento.

    Como é a saudade?
    O que é a saudade?

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  4. à martinha e restantes "poetas"

    Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto"
    Lobo Antunes

    Eu que me comovo
    Por tudo e por nada
    Deixei-te parada
    Na berma da estrada

    Usei o teu corpo
    Paguei o teu preço
    Esqueci o teu nome
    Limpei-me com o lenço

    Olhei-te a cintura
    De pé no alcatrão
    Levantei-te as saias
    Deitei-te no banco

    Num bosque de faias
    De mala na mão
    Nem sequer falaste
    Nem sequer beijaste

    Nem sequer gemeste,
    Mordeste, abraçaste
    Quinhentos escudos
    Foi o que disseste

    Tinhas quinze anos
    Dezasseis, dezassete
    Cheiravas a mato
    À sopa dos pobres

    A infância sem quarto
    A suor, a chiclete
    Saíste do carro
    Alisando a blusa

    Espiei da janela
    Rosto de aguarela
    Coxa em semifusa
    Soltei o travão

    Voltei para casa
    De chaves na mão
    Sobrancelha em asa
    Disse: fiz serão

    Ao filho e à mulher
    Repeti a fruta
    Acabei a ceia
    Larguei o talher

    Estendi-me na cama
    De ouvido à escuta
    E perna cruzada
    Que de olhos em chama

    Só tinha na ideia
    Teu corpo parado
    Na berma da estrada
    Eu que me comovo
    Por tudo e por nada

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  5. Aos dinos

    É extraordinário. E logo "eu que me comovo por tudo e por nada", um disco do Vitorino só com letras de Lobo Antunes. Se não me engano é de 1992. Muito bom.

    Mas neste caso fora do contexto...

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  6. Nesse País de lenda, que me encanta,
    Ficaram meus brocados, que despi,
    E as jóias que plas aias reparti
    Como outras rosas de Rainha Santa!

    Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
    Foi por lá que as semeei e que as perdi...
    Mostrem-se esse País onde eu nasci!
    Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!

    Ó meu País de sonho e de ansiedade,
    Não sei se esta quimera que me assombra,
    É feita de mentira ou de verdade!

    Quero voltar! Não sei por onde vim...
    Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
    Por entre tanta sombra igual a mim!
    Florbela Espanca.

    Um beijo de saudades para vocês todos aí em casa.
    As saudades que tenho vossas são indiscritíveis.
    Vemo-nos em breve.
    Vanessa

    P.S. Obrigada tio!

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  7. Como em todos os inícios de novo ano, a palavra esperança renova-se, isto é, repete-se, e vem à baila em todas as conversas e desejos.
    Não andaremos nós demasiado esperançados com a esperança?
    A par da esperança anda a saudade, uma e outra, palavras tão Portuguesas, bonitas, sentidas, e que tão bem caracterizam o nosso estado de espírito de sempre.
    Somos um Povo de eterna esperança – isto é, eternamente esperançados com a esperança.
    Somos um Povo de eterna saudade – somos Portugueses.

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  8. Ok, de acordo.
    Mas desde que não venham para aqui com angolanos.
    Angolano, para mim, ou é turra ou retornado.

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  9. Menino dino:


    Imagine que este blog só tem aquilo que você gosta.
    Imagine que durante meses lê os mesmos posts que você gosta neste blog de que passaria a gostar. Neste momento já sabia tudo de cor de tanto ler. Imagine agora que há um fulano -um ÚNICO fulano- que gosta de ler outras coisas. Umas que são fáceis e acessíveis para você gostar e outras mais complicadas para a sua debilidade intelectual. Este fulano, só este fulano, seria um pesadelo para si...
    Ai dino, dino, que tão mal encavado és.............

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  10. Este post fez-me chorar... Eu sei bem o que e sentir a falta do que foi tao nosso e que agora vive dentro de nos em forma de recordacao.

    (desculpem-me os erros, este teclado eh Ingles e nao tem acentos!)

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  11. O urogalo não cantou toda a manhã.
    Despida de sentimentos, procuro
    os nomes e os mitos. E a grande sombra
    da árvore de palma veio pousar
    sobre a relva nua e o decepado coto.
    Não mais interiorizo a Natureza próxima.
    Que o morto aloendro leve consigo
    anos de infância e juventude, carícias
    do vento, para sempre e em todo o lugar.

    O urogalo viria em vez do melro,
    cujo corpo sacode o restolho de velhas folhas,
    cujo assobio se abafa na hera invasora.
    Seria o sinal do último cantor da casa,
    o desconhecido urogalo, que apagaria
    esta tristeza de nada desejar, aqui e agora,
    entre estes cepos, esta terra revolta
    e os mortos tão absolutos e esquecidos,
    depois de tão eternamente vivos.

    FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO 1938-2007
    retirado do http://portugaldospequeninos.blogspot.com/

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