...fica a impressão de
que foi o último dia em que realidade e
inocência andaram a par, despedindo-se
depois; em que a alegria, a espontaneidade
das expressões e dos rostos dos que por ali
desfilavam, trocando vivas e abraços mesmo
entre desconhecidos, daria lugar nos dias
seguintes a poses mais calculadas, a conflitos
de interesses, ao esgrimir de ideologias, à
criação de trincheiras onde presumíveis
aliados se acantonariam para mais sérias batalhas. Isto porque a concórdia aparente
naquele respirar colectivo, naquela ânsia de
união voluntária e puramente livre, já trazia
no seu interior as sementes de uma inevitável
discórdia."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
sexta-feira, 3 de maio de 2024
1º. de Maio de 1974: o dia (e mês) em que a realidade se despediu da inocência
Uma semana depois do 25 de Abril de 1974, aconteceu o primeiro 1º. de Maio em Liberdade.
Foi a maior manifestação de sempre no nosso país!
No dia 27 de abril 1974 tinha sido decretado o 1.º de Maio como feriado nacional. É considerada a primeira conquista legal após a revolução.
Em Lisboa, a Alameda Afonso Henriques foi ponto de encontro e o comício ocorreu depois no Estádio, onde muitos milhares de pessoas se juntaram nesse dia sob o lema “Paz, Pão e Liberdade!”.
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