Sexta e sábado, o Paço de Maiorca esteve de portas abertas, das 14H00 às 17H00. As visitas com cerca de meia hora de duração, destinaram-se a grupos com um número máximo de 10 pessoas.
Para além dos técnicos de cultura da Câmara da Figueira da Foz, as visitas foram acompanhadas e supervisionadas por elementos do corpo dos Bombeiros Sapadores da Figueira da Foz, “por razões de segurança” e cumprimento das normas sanitárias.
A Câmara da Figueira da Foz chama a esta iniciativa “Ver para crer”. É fácil perceber porquê: um espaço patrimonial icónico e de inegável interesse para o município deu lugar a um ciclo ruinoso.
A realidade ultrapassa a ficção. O que vi é mau de mais. O visitante, neste caso eu, fica profundamente incomodado com a realidade "das atrocidades culturais cometidas num dos mais notáveis edifícios de caráter civil, datado de finais do século XVII”.
No início da visita, tomei contacto com "um filme com imagens reais de locais específicos do paço, captadas há 20 anos, em confronto com a dramática realidade dos dias de hoje".
“Ver para crer”, abana mesmo consciências. A preservação patrimonial é uma questão de cultura e de valores. O processo político é conhecido. Passou pela decisão política de cancelar as obras de reabilitação e transformação do Paço de Maiorca em unidade hoteleira, tomada quando o PS governava o município, com João Ataíde na presidência da câmara. A empreitada, da responsabilidade do município, porém, havia sido lançada pelo anterior executivo camarário, liderado pelo PSD, era Duarte Silva presidente da autarquia.
A exploração comercial do imóvel envolvia uma parceria do município com um privado. O fim das obras e a dissolução da empresa mista resultou no pagamento, em 2021, pelos contribuintes figueirenses, de uma indemnização de cerca de seis milhões de euros aos credores. E poderá não ficar por aqui, já que o ex-parceiro privado exige ser ressarcido em 200 mil euros.
Na actualidade, o edifício está devoluto e em degradação há vários anos. O actual presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, já garantiu que vai tratar da reabilitação do imóvel classificado. De resto, vem reiterando que a reabilitação e a preservação do património são duas das suas prioridades.
Na actualidade, o edifício está devoluto e em degradação há vários anos. O actual presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, já garantiu que vai tratar da reabilitação do imóvel classificado. De resto, vem reiterando que a reabilitação e a preservação do património são duas das suas prioridades.
Todavia, pelo que me pude aperceber no rescaldo da visita, existem dificuldades que se vão colocar à reabilitação do que foi edificado - e do que foi destruído.
Se o acervo doado ao Paço está a salvo, bem como os azulejos removidos e o célebre papel oriental pintado, há muitas novas inserções de betão que aumentam a área útil do edifício, criação de pisos abaixo do nível edificado original que são uma fonte de instabilidade e infiltrações no edifício e a quase total destruição dos planos originais da casa pela remoção de paredes - alterações quase impossíveis de serem revertidas. De lamentar ainda o abandono das zonas nobres da casa - a cozinha e a capela, eventualmente pré existências ao edifício do século XVII.
Vim de Maiorca ontem à tarde, naturalmente triste, chocado, desolado, revoltado e com a seguinte dúvida: no estado a que isto chegou, para além de fazer acontecer um milagre, o que fazer com o Paço de Maiorca e com que dinheiro?
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