sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Bem aventurados os pobres de tudo, incluindo de espírito, pois será nosso o Reino dos Céus!

 "Rita Pereira", via Luís Osório

Foi na Figueira,
 que Rita Pereira deu o salto
 ao ser coroada
 Miss Biquini, em 2002
.

"1.
A atriz/apresentadora Rita Pereira, no seu instagram, mostrou fotografias da sua passagem por Roma e pelo Vaticano. E dedicou esta pérola aos seus fans: “Estas imagens são para vocês. Vocês que se calhar não terão oportunidade de um dia visitar o Vaticano. Com amor para vocês”.

Não discutindo a qualidade do seu português, ou qualquer outro atributo, Rita Pereira assumiu estar numa esfera superior à maioria dos mortais que, coitados, miseráveis indigentes, podem e devem agradecer as suas fotografias e sonhar com um dia longínquo em que também eles poderão ser merecedores de ver aquelas imagens em carne e osso.

2.
Não traria este episódio sem importância se ele não fosse simbólico deste tempo em que o real e a ficção são muito difíceis de distinguir.

O que é real pode ser ficcionado.
E o que parece ficção pode ser real.

Ou, se preferirem, este é um mundo em que a verdade e a mentira deixaram de ser opostos. Um tempo em que uma importante franja das pessoas não se interessa se aquilo que ouve é verdadeiro ou falso, apenas se importa que a informação vá ao encontro daquilo que já pensam ou que seja dita pelo personagem que escolheram como fiel depositário da verdade.

Um tempo em que quem detém poder, popularidade ou qualquer outro atributo mediático acredita que quem está por baixo é inferior.

3.
o episódio de Rita é importante na medida em que nos oferece um sinal que explica muito do que vivemos.

Que explica o advento dos populismos.
Os venturas desta vida.

É difícil levá-los a sério, como é difícil levar a sério Rita Pereira mas todos se distinguem pelo desprezo em relação às pessoas – parecendo que as protegem e amam.

A apresentadora fá-lo por burrice ou ingenuidade. Está convicta de que as fotografias ajudam as pessoas a ser mais felizes. E está obviamente fascinada com ela própria e a bolha onde e em que vive.

Os populistas fazem-no por oportunismo político e com uma perversa inteligência. Acumulam polémicas e acicatam os ânimos de pessoas ressentidas e mal informadas para ganhar massa de apoio e votos.

Uma oferece fotografias a quem nunca poderá fotografar.
E os outros oferecem um lugar à mesa aos que foram arredados de todas as mesas.»

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