Um dia destes, numa mera e despretensiosa conversa de café com dois empresários, a propósito da Liberdade que não existe na Figueira, veio à baila a necessidade que toda a gente tem de dinheiro para viver...
Ninguém é totalmente independente.
A questão, porém, nem é honesta, se for colocada nestes termos.
Todos somos dependentes de alguém ou de alguma coisa.
E, acho eu, ainda bem...
Não temos, portanto, um problema de independência, porque não existe um problema de independência.
Temos, sim, segundo eles, um problema de dinheiro. Ou melhor, de falta de dinheiro.
Poderíamos, porém, ter todo o dinheiro que quiséssemos, que continuaríamos a ser dependentes de alguém ou de alguma coisa.
Temos é um problema de falta de Liberdade.
O problema não é termos perdido, por termos perdido a Liberdade, por termos pouco dinheiro.
O problema foi termos perdido a Liberdade, para outros, perante os quais não nos comportamos como iguais.
Por isso, a questão do dinheiro parece-me de relativa pouca importância...
Tendo
saúde, é possível viver com pouco dinheiro, ser velho, gordo e barrigudo e feliz ao mesmo tempo!..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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