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Como o Miguel também sabe, de acordo com Marx, a ideologia da classe dominante tem como objectivo manter os mais ricos no controle da sociedade.
Portanto, é verdade, tal como titula a crónica de Miguel Almeida, militante do PSD, no diário AS Beiras da passada segunda-feira, que a "austeridade também é ideológica".
"Os partidos que perderam as eleições uniram-se numa frente comum para formação do actual governo, porque era um “imperativo patriótico” não permitir que quem ganhou se mantivesse na governação do país. Passos e Portas eram os arautos da austeridade e o país precisava de uma alternativa que pusesse fim, em definitivo, à austeridade. Como era de esperar, logo no primeiro orçamento, bateram de frente com a realidade e o orçamento que Bruxelas aprovou, com reservas, traz mais austeridade, ainda que mude parcialmente os destinatários. O resultado é um aumento da carga fiscal e uma revisão em baixa do crescimento económico para 1,8%. Ficamos assim a saber, que para o governo e os partidos que o apoiam, existe austeridade boa e má. Portanto, o que ditou a união das esquerdas para a formação do governo, não era o fim da austeridade, mas tão só uma austeridade diferente. O tal caminho alternativo que nos “venderam”, afinal é também austeritário, só que diferente, porque é de “esquerda e patriótico”. Temo que o populismo de que se reveste todo este caminho não traga bons resultados. A incompatibilidade que existe na equação de querer aumentar o crescimento económico, ao mesmo tempo que se aumenta a carga fiscal às empresas e se cria um discurso contra o “capital”, não traz, como nunca trouxe, bons resultados. Costa tinha razão, é necessário um outro caminho."
Antes do mais, tal como acontece com a maioria dos portugueses - onde certamente não estará incluído Miguel Almeida - assumo dificuldades em perceber e dominar todas as nuances com se tece a feitura de um orçamento de Estado.
Como todos os portugueses, tenho acesso à informação através dos jornais, rádios, televisão, internet, procuro verificar a posição de políticos de todos os quadrantes e, sobretudo, tenho particular atenção ao posicionamento dos grupos de interesses que mamam do Estado.
Depois procuro as minhas conclusões.
Desde logo, o óbvio: estamos fortemente condicionados por Bruxelas.
Perante esta realidade, existem duas maneiras de reagir: à Passos Coelho/Paulo Portas, que consistiu em aceitar toda e qualquer imposição sem contestação, e tratou os portugueses como carne para canhão; e aquilo que tem estado a ser feito pelo actual governo de António Costa, tentando numa conjuntura muito adversa, ter em conta os portugueses e o interesse nacional.
Manuela Ferreira Leite, uma social-democrata, reconheceu que o governo saiu vitorioso da difícil negociação...
Depois de semanas de acesas discussões sobre o OE16 em órgãos de informação controlados pelos interesses políticos e financeiros, em que a esmagadora flor do entulho do comentário politico em Portugal é afecta ao anterior governo (actual oposição), verificamos que não se registou a catástrofe anunciada. Como a crónica acima do Miguel Almeida deixa transparecer, a direita em Portugal vive hoje mergulhada na frustração.
Era o orçamento que não passaria em Bruxelas, era o governo que ia cair, era a chantagem das agências de rating (como sabemos, mais uma mão misteriosa a servir os interesses da alta finança...), eram aqueles que nos impuseram o maior aumento de impostos de que há memória a anunciar o apocalipse fiscal!..
Agora, tal como faz Miguel Almeida, no papel de a correia de transmissão dos interesses do seu partido na crónica acima, chegou-se ao ponto de defensores da ideologia da austeridade acusarem o actual governo de fazer um Orçamento de Estado ideológico!..
O guião, basicamente, resume-se a esta pobreza: os aumentos de impostos inscritos neste documento seriam o preço a pagar pelos acordos à esquerda que permitiram a constituição do actual governo.
Será que os portugueses já se esqueceram do que foi feito por Passos Coelho/Paulo Portas em 4 anos?
Empresas privatizadas em saldos, aumentos colossais de impostos, cortes violentos no Estado Social, imigração em massa, etc.
Será que os portugueses já se esqueceram?...
Desde já, em abono deste governo, registo o aumento do salário mínimo, a redução das taxas moderadoras, a redução dos impostos sobre o trabalho, a reposição dos cortes salariais na função pública, no Complemento Solidário para Idosos, no Rendimento Social de Inserção e no Abono de Família.
É positivo saber que se pode governar sem massacrar sempre os mais vulneráveis.
Registo mais um factor de esperança no orçamento do actual governo: o fim dos saldos no sector empresarial do Estado.
Após quatro anos a vender património do Estado “como quem vende os anéis para ir buscar dinheiro“, este orçamento não prevê qualquer privatização.
Bom, também é verdade que já não há muito mais para privatizar...
O PSD, procurou fazer passar, que o OE16 é o orçamento do “toma lá, dá cá“.
A resposta pronta e eficaz da esquerda, via deputado João Galamba, colocou a propaganda do PSD acessível a qualquer português que tenha dificuldade em perceber e interpretar um OE: trata-se do orçamento do “toma lá 1400 milhões e dá cá apenas 290“.
Gostei do trocadilho...
Irritado e aborrecido andei eu 4 anos com os os orçamentos do "toma lá peanuts, dá cá salários, prestações sociais e investimento em saúde e educação para dar isenções e benefícios aos mesmos de sempre"...
Eu sei que “o caminho do inferno está pavimentado de boas intenções”.
Vamos ver, depois de 4 anos da "geringonça de direita", o que vai dar a "geringonça de esquerda"...
1 comentário:
Os meus dois cêntimos sobre o debate do orçamento….
Não havia cão nem gato dos PaFs, incluindo os seus avençados nos media, que não se esganiçasse com o OE.
A chegada ao poder de uma nova geração de políticos de direita pouco amigos da democracia, uma casta portadora de uma ideologia imoral denominada austeritarismo, que se julga iluminada e infalível, e que bem “esmiuçada” se resume a: espremer os povos com os seus negócios!
Mas não é o PSD que quer um ainda maior respeito pelo Tratado Orçamental, com uma maior austeridade?
Não dá para falar de outra coisa?
Isto está a ficar um bocado insuportável e com argumentos destes, então é mesmo e fugir!
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