"Preocupa-me a forma
como os portugueses lêem sociologicamente o país. É uma leitura
que mistura a narrativa da
TV - as patéticas novelas,
os péssimos noticiários, a
papalvice dos comentadores
- com a versão romanesca
de um tabloide popularucho
e a estranha forma como a
justiça age. Basta escutar uma
hora de conversas de café
para perceber a esquizofrenia
maniqueísta e simplória que
arrasta a descrição que se faz
do absurdo do quotidiano.
Há os “nós”, sofredores,
trabalhadores e pagadores de
promessas, e os “eles”, essa
corja malvada que deveria
melhorar a vida dos “eles”.
Os primeiros são impotentes; sabem tudo, mas
limitam-se a desabafar que
“ao menos o Salazar morreu
pobre”.
Os segundos aparecem nas revistas cor-de-rosa
e nas TVs a falar genuinamente mal a língua materna,
mas apiedados dos primeiros.
Discorrem sobre a pobreza
dos outros como quem fala
de estranhos.
Rui Cardoso Martins, nas
suas crónicas que intitulou
“Levante-se o Réu”, já nos
tinha relatado como uma boa
parte desta portuguesinha
sociedade se desenrola nas
salas de audiências. A justiça
é o teatrinho dos pobres – do
pilha-galinhas, do burlão de
esquina, do traficante de erva,
do contrafator de marcas.
Das conversas ouvidas, destaco a da D. Olga, ex-telefonista, que tem dores na bacia,
veio há pouco da hidroginástica e vai almoçar um chambão assado com batatinhas
salteadas que a empregada
está a fazer. Bonito.
“Ó Portugal, se fosses só
três sílabas/de plástico, que
era mais barato!” (O’Neill dixit)" - António Tavares, hoje no jornal AS BEIRAS.
Em tempo.
"É normal no ser humano ser um pouco neurótico, sendo apenas o excesso chamado de patológico", Sigmund Freud.
Fala-se pouco disso, mas Portugal tem uma incidência brutal de doenças Pisquiátricas.
Brutal, porque um em cada cinco, é deveras significativo.
O leque é elevado, e dentro, cabem doenças mais e menos graves.
O preocupante, para além de outras questões, é que a abordagem, é muitas das vezes feita pelo Médico de Família, que por boa vontade que tenha, não domina o assunto.
É mais ou menos o mesmo, que pormos um Médico de Clínica Geral a realizar intervenções cirúrgicas.
O resultado, não escandaliza tanto, é um facto.
O desgraçado até já era maluco.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
1 comentário:
Escuta conversas de café e lê boas cronicas.
Mas os seus cidadãos contribuintes ficam de fora, de mão estendida, junto à porta do poder.
Quando votar pela transparência das reuniões do seu executivo,ganhará o estatuto de poder exercer a crítica. Assim, estes textos são um bocejo.
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