Foto de Pedro Cruz, sacada daqui
“Os lugares também têm traços próprios que fazem com que uma fotografia captada em determinado lugar específico seja única e irrepetível noutro espaço, dando valor acrescentado à beleza da diversidade. Na Figueira, poderemos sinalizar algumas marcas identitárias das quais se destaca a paisagem moldada na amenidade do estuário, no recorte da enseada e no dorso suave da Serra, dispondo de um invulgar e amplo sistema de vistas para todos os quadrantes. Esta é, com efeito, uma mais valia oferecida pela bondade da natureza, numa harmonia generosa que importa proteger e potenciar em termos económicos e culturais. Assim sendo, não podemos ceder às pressões imediatistas dos que querem plantar “prédios e apartamentos encavalitados com vista para o mar, para onde fazemos desaguar os esgotos de todas aquelas casas numa cacafonia urbanística que não nos distingue de todos os outros sítios” como escreveu Luísa Schmidt. Não é por uma mera questão de gosto ou por fundamentalismo de qualquer tipo. É a racionalidade de vivermos e promovermos o território como um recurso finito que, como tal, precisa de uma delicada gestão e de olhar profundo.
O amontoado de construções de manhosa qualidade arquitectónica que trepam desde o Cabo Mondego até meia encosta da Serra, ou as incríveis enxertias fora de escala do edifício Atlântico e do inacreditável prédio do vale do Galante, são tristes exemplos de como se desperdiça, impunemente, o valor de uma marca singular, permitindo-se, ao invés, a degradação do edificado centenário sobranceiro ao mar.”
Texto de Pedro Melo Biscaia, com a devida vénia, sacado daqui.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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