Impávida e serena, como é seu timbre, a Figueira, esta tão nossa santa e querida terrinha à beira mar plantada, viu desfazerem-se ao longo de anos, alguns projectos de informação independente, livre e pluralista.
Alguns exemplos: a Voz da Justiça, o Mar Alto (série I), o Barca Nova, o Linha do Oeste.
Neste momento, outro projecto que cometeu o pecadilho de pretender estar com a espinha direita, encontra-se em risco de sobrevivência. Estou-me a referir, obviamente ao site figueira.net.
A vida é assim mesmo, dirão os cínicos.
Talvez seja. Os sonhos desfazem-se. Espero é que o sonho figueira.net, se se confirmar o seu azedamento, não azede também o seu criador.
António Cruz: a Figueira não merece isso.
Mas isto – e, isto, é o pluralismo, a independência e a liberdade da informação na nossa querida e santa terrinha – não pode ser analisado numa perspectiva meramente pessoal.
Isto, na realidade, tem a ver com toda a comunidade figueirense. Isto, deveria ser uma preocupação de todos os figueirenses. Figueirenses, escrevi eu, não escrevi figueirinhas.
Os figueirenses, neste momento, têm uma óptima oportunidade para afirmarem claramente que informação querem.
Mas não vai acontecer nada, como sempre, vão assobiar para o lado e seguir em frente, deixando
isto como preocupação de outros.
Um dia destes, voltam a lamentar-se que a Figueira é um marasmo, que os políticos são uns oportunistas, que a cidade está cada vez pior...
Mas, de Abril de 1974 para cá, quem tem permitido que isso aconteça?
Quem cala? Quem vota nos políticos oportunistas? Quem permite o marasmo?
De quem é a responsabilidade, no fundo, pelo estado vegetativo do concelho da Figueira da Foz?
Dos figueirenses em geral... Primeiro, sempre primeiro, está a sua vidinha...
Todos, ou quase todos, conhecemos a realidade da comunicação social na Figueira, onde só por humor negro, se pode admitir que existe pluralismo, independência e informação livre.
O trabalho precário reina no sector. Será possível, haver ética e informação independente e livre com jornalistas “a dias”?
Num jornal ou numa rádio, o trabalho precário – à peça ou com contrato a prazo – não é, apenas e só, uma questão laboral. É, antes do mais, uma questão de liberdade da informação – do jornalista e nossa, os potenciais destinatários do conteúdo do seu trabalho.
Independentemente da pessoa que se encontra por detrás do jornalista, numa cidade como a Figueira da Foz, é fácil controlar a informação: basta aos poderosos – sejam políticos ou detentores do poder económico –controlar a barriguinha do jornalista e da sua família.
O
figueira.net não era a oitava maravilha do mundo. Mas que vai fazer falta à Figueira, lá isso vai.
António Cruz: um abraço do António Agostinho