sábado, 21 de maio de 2022

A praia da Figueira, plano de urbanização do engenheiro Almeida Garret e as dúvidas e interrogações do engenheiro José Redondo, chefe da repartição técnica da CMFF em 1962

"Em 1966, a 30 de outubro, foram inaugurados os 2 molhes, com um custo de 70.000 contos.  Após a construção destes molhes, a praia cresceu progressivamente, em resultado das areias provenientes da zona costeira a norte do cabo Mondego. Em contrapartida, a sul da foz do Mondego, o mar avançou perigosamente." (Foto e legenda via Fernando Curado)

Saraiva Santos, 2015, in "A indústria da pasta de celulose na história da Figueira"

Em março de 1962, o chefe da repartição técnica da CMFF, engenheiro José Redondo escreveu num parecer sobre o plano de urbanização do engenheiro Almeida Garrett:

(...) " manter-se-á a praia nas condições próximas das presentes, de tal modo que a avenida possa continuar a ser, de facto, uma avenida marginal? 

Crescerá a praia de tal modo que venhamos a ter, até ao mar, um areal imenso, desértico, incómodo e impróprio para veraneio, perdendo assim a Figueira o seu principal motivo de atração?

(...) virão as obras do porto proporcionar, realmente, o surto de progresso em que a cidade, há mais de um século almeja ?

Ou serão, pelo contrário, essas obras motivo de um retrocesso de atividades, pela perda da riqueza que a praia vem, desde há muitos anos, proporcionando?

(...) Porque não se julgue que será alguma vez viável estar a pensar numa marginal já com o distanciamento do atual, para ter em conta o assoreamento que as obras exteriores do porto venham a provocar.

(...) A Figueira não pode estar a cada dois ou três decenios a mudar umas tantas dezenas de metros a sua avenida marginal e o respectivo equipamento. (...) Se em 20 anos, como afirma o LNEC, a praia vai crescer 400 ou 500 metros, como pode a Figueira pensar noutra avenida que acompanhe essa progressão para o mar".

20 de Maio de 2022 - Três Efemérides, num Dia Só...

"O dia 20 de Maio é o dia em que, em Portugal, ocorrem três efemérides ...embora só uma delas seja celebrada... Três efemérides que, por acaso, se dá o acaso de coincidirem, temporalmente, no mesmo dia. Numa coincidência que é semelhante à da noite do dia 17 de Dezembro de 1961... (o Dia do Destino Português...), e do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que nessa noite estava a ser escrito... acerca do que é a verdadeira grandeza, humana, e do que é o verdadeiro pranto, histórico, e do que é a tragédia, paradoxal, da verdadeira História de Portugal, e dos Portugueses, e da sua expansão ultramarina, e do seu lugar e da sua presença no mundo...

A primeira dessas efemérides (mas que ninguém comemora...) é a do assassínio, em 20 de Maio de 1449, da figura mais significativa e interessante da História de Portugal, o Infante Dom Pedro de Coimbra, o responsável pioneiro da estruturação (legal e administrativa) do Estado Português (e da coragem de, através dessa estruturação, enfrentar o Feudalismo...), e o verdadeiro responsável pioneiro do incentivo e da organização do "Mar Português", dos Descobrimentos Geográficos e da Expansão Ultramarina Portuguesa (assassinado em 1449, em Alfarrobeira, às portas de Lisboa, faz, neste ano de 2022, quinhentos e setenta e três [573] anos).

A segunda dessas efemérides (sempre institucionalmente comemorada...) é a do dia que é considerado como o "Dia da Marinha Portuguesa", o qual todos os anos é sempre festejado neste dia 20 do mês de Maio devido a ser o dia em que se considera que em 20 de Maio de 1498 chegou à Índia — abrindo pela primeira vez o caminho marítimo entre a Europa e o Índico — a expedição portuguesa, da Ordem de Santiago da Espada, vulgarmente conhecida como a "Viagem de Vasco da Gama". A expedição dos Gamas (Paulo e Vasco da Gama), que, apesar de todos os atrasos, até acabou por ser realizada, e teve lugar em 1497-1499 (e, no fim, após a morte de Paulo da Gama, acabou por ser dela considerado responsável o seu irmão que o acompanhava e que sobreviveu, Vasco da Gama), e foi uma expedição que havia sido preparada pelo neto desse antigo Regente Infante Dom Pedro de Coimbra assassinado em Alfarrobeira, e seu herdeiro e continuador (pessoal, patrimonial e político) — herdeiro e continuador, quer na política interna, quer na política ultramarina — o “Príncipe Perfeito” Rei Dom João II.

Essa chegada à Índia nessa expedição de 1497-1499 dita "de Vasco da Gama" (que faz agora quinhentos e vinte e quatro [524] anos) ficou para sempre célebre, e é sempre celebrada — como uma das datas mais importantes e mais gloriosas da História de Portugal —, embora sobre ela existem enormíssimas dúvidas, e óbvias lacunas, que nunca são apontadas, apreciadas e esclarecidas... — e embora estejam à frente dos olhos de toda a gente as óbvias censuras e manipulações que acerca dela foram feitas "a posteriori"… (assim se originando o chamado "mistério de Vasco da Gama"... que quase tudo e todos, em Portugal, se têm afanosamente dedicado a silenciar e a tentar esconder, como se não existisse).

E essa expedição dos Gamas nem sequer terá chegado à Índia no dia 20 de Maio de 1498, e sim no dia 17 ou 18 de Maio de 1498... Mas a deslocação da efeméride um par de dias mais para a frente, na calendarização oficial (de 18 de Maio para 20 de Maio), para efeitos públicos e institucionais, teve a utilidade de assim se conseguir que o dia 20 de Maio, em Portugal, todos os anos, pudesse ser evocado e celebrado por outra qualquer coisa de significativo (e até glorioso...), em vez de ser evocado como o dia do assassínio do Infante Dom Pedro, o da "Virtuosa Benfeitoria", em Alfarrobeira, no episódio que ficou célebre como "Fartar, Vilanagem!"…

Preferiu-se comemorar a "Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia", em vez de comemorar "Fartar, Vilanagem!"…

A terceira dessas efemérides (mas que ninguém comemora...) é a do dia 20 de Maio de 1801, o dia em que foi conquistada (e assim ficou para sempre), pelo exército de Espanha comandado por Manuel Godoy (no âmbito da ridícula campanha da "Guerra das Laranjas"...), a praça portuguesa de Olivença — a praça militar isolada do lado de lá do Guadiana que desde há muito se encontrava ao abandono por parte dos Reis portugueses da Casa de Bragança... (os novos reis que, desde 1640, estavam instalados não somente em Vila Viçosa mas também em Lisboa, e aí viviam das riquezas do ouro e dos diamantes do Brasil…). Ao abandono... com a ponte Ajuda, que era o cordão umbilical que ligava Olivença a Portugal, destruída desde 1709, e nunca reconstruída... com uma guarnição somente de 200 milicianos… com um governador, mercenário francês, Jules César Auguste de Chermont, que logo se rendeu... etc.)

A ponte Ajuda construída no tempo do Rei português Dom Manuel nos inícios do século XVI (construção belissimamente estudada no livro do historiador local Luis Alfonso Limpo Píriz)... destruídos os seus arcos centrais em 1709, e deixada assim... sem reconstrução, durante um século…! Durante o século em que a Portugal afluíram os abundantes ouros do Brasil, e por todo o lado foram erguidas as faraónicas obras religiosas portuguesas, de Mafra, etc., com as suas talhas douradas...!

Abandono, e desleixo, à portuguesa. Até que Olivença, por isso, ficou de todo estrangulada na sua ligação ao lado de cá do rio... e se perdeu para Portugal.

Foi assim o futuro de Portugal…

Em Portugal, quem ganhou, para sempre, foi a Casa de Bragança... e não a Casa de Coimbra do Infante Dom Pedro de Alfarrobeira e do seu neto Rei Dom João II...

E assim se criou um país que ficou para sempre subdesenvolvido e insustentável.

Hoje, 20 de Maio de 2022, completam-se quinhentos e setenta e três [573] anos da morte de uma das figuras mais decisivas e mais importantes (e, na sua multifacetada identidade, ao mesmo tempo homem de pensamento e homem de acção, a mais fascinante de todas as personalidades individuais) da História Nacional Portuguesa, o INFANTE DOM PEDRO DE AVIS E LANCASTRE (1392-1449), Regente da Coroa de Portugal (1439-1448), viajante das "Sete Partidas do Mundo" (Europa, 1425-1428), Duque de Coimbra, Senhor de Montemor, Buarcos, Aveiro, etc. (Beira Litoral, 1411-1415-1449)… o verdadeiro precursor da "glória e grandeza" futura de Portugal (como lhe viria a chamar Sophia de Mello Breyner Andresen): o precursor da criação do moderno Estado Português (as "Ordenações Afonsinas" de 1446, e a protecção dos concelhos municipais e das actividades económicas produtivas, do mercado e dos mercadores e pescadores), o precursor do efectivo lançamento dos Descobrimentos e Expansão Ultramarina Portuguesa (os verdadeiros Descobrimentos Geográficos do desconhecido, e as verdadeiras colonizações das Ilhas Atlânticas, e a encomenda para Portugal do mapa veneziano de Fra Mauro, origem do futuro "Plano da Índia", o plano que veio a ser conceptualizado e organizado na década de 40 do século XV pelo seu neto e herdeiro o "Príncipe Perfeito" Rei Dom João II), e o precursor da autêntica criação do vocabulário cultural e abstracto da Língua Portuguesa ("Livro da Virtuosa Benfeitoria", c.1431) e de tantos outros avanços culturais que, com o tempo, secularmente, vieram a ser os paradigmáticos para a identidade nacional portuguesa (a inspiração para os Painéis de Nuno Gonçalves de c.1445, a continuidade das obras do Mosteiro da Batalha como panteão nacional, etc.).

O Infante Dom Pedro, sobre a memória do qual — e sobre o carácter exemplar e simbólico dessa memória, verdadeiramente profética para o futuro de Portugal e da sua História (uma memória que, por isso, depois do seu assassínio, ficou a pairar, como um fantasma, para sempre, nessa História...) — tem desde sempre sido insidiosamente mantida e reforçada (ora silentemente disfarçada nos bastidores escuros dos claustros clericais e pseudo-progressistas, universitários e "académicos"… ora trombeteadamente massificada nas algazarras dos festivais das "Comemorações" oficiais…) uma "Maldição" destinada a perpetuar o seu silenciamento e a sua censura (à "boa maneira portuguesa", discretamente, escondendo a mão…)… através do silenciamento e da censura (através da perseguição pessoal, profissional e política) contra quem quer que tenha a coragem de tentar resgatar essa "Maldição da Memória" em curso desde há séculos.

Uma "Maldição" destinada a perpetuar sobretudo o silenciamento do exemplo cívico e do significado da sua figura. Uma maldição destinada a silenciar a História, memória e exemplo do Passado, para libertação do Futuro...

Mas uma maldição que não vai ter êxito... Essa figura histórica do Infante Dom Pedro, devido a esse seu exemplo cívico, está viva, e assim vai continuar para sempre... porque, ainda hoje (e para sempre), fala com a sua própria voz...

Agora, no século XXI, até pode enviar "tweets" (condensados a partir do seu "Livro da Virtuosa Benfeitoria" e de outros textos seus)...

Magia da Escrita, contra a Maldição da Memória... 1449-2022..." 

CENTRO DE ESTUDOS DO MAR - CEMAR. 

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Orçamento Participativo (5)

 Via Diário as Beiras

Gás russo...

"PARAFRASEANDO FRASE CÉLEBRE DOS FILMES DE TRIBUNAL: NUNCA AMEAÇAR CORTAR O GÁS QUANDO NÃO SE TEM A CERTEZA DE PODER CORTAR O GÁS."

Ponto da situação: acho que já excedemos todas as expectativas - incluindo as nossas...


Se este ajuste directo fosse feito a uma empresa ligada a alguém da área do BE ou do PCP, estaríamos perante o pagamento de um favor. Ou perante a compra de silêncio... 
Neste caso, tratando-se de pessoas impolutas de direita, é o reconhecimento da competência e do mérito.
O importante nunca foi seres o melhor. 
O importante sempre foi estares no lado certo. 
E o lado certo todos sabemos qual é.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Orçamento Participativo... (4)

 Via Diário as Beiras

Mar, refugiados ucranianos e Quinta das Olaias estiveram ontem em destaque na reunião de Câmara

Via Diário as Beiras
"O mar voltou a fazer das suas no Cabedelo, inundando a estrada e armazéns no porto de pesca. As obras realizadas pelo anterior executivo camarário, que mereceram um oceano de críticas, continuam a agitar as águas políticas". 

"Refugiados ucranianos voltam a ser pretexto de debate político devido a uma carta aberta". 

"A Quinta das Olaias, propriedade do município, será a base do polo que a Universidade de Coimbra (UC) vai criar na Figueira da Foz. A informação foi avançada, ontem, pelo presidente da autarquia, Santana Lopes, aos jornalistas. O autarca revelou ainda, na reunião de câmara, que uma delegação da UC liderada pelo reitor, Amílcar Falcão, visitou aquele espaço, o Centro de Artes e Espetáculos (CAE) e o antigo terminal rodoviário. Por outro lado, aos jornalistas, Santana Lopes não afastou a possibilidade de o polo da UC e o centro de formação que o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) vai instalar no Sítio das Artes poderem coexistir no mesmo espaço. Solução que, aliás, vem defendendo. Todavia, a decisão está do lado da UC e do IEFP. Para ganhar tempo, já que a UC deverá iniciar a sua atividade na Figueira da Foz já no próximo ano letivo, a Quinta das Olaias é, neste momento, o imóvel que reúne melhores condições." 

"No período da reunião de câmara destinado à intervenção do público, o munícipe Miguel Amaral, baseando-se nas notícias publicadas, manifestou a sua oposição à utilização da Quinta das Olaias pela UC. Deixou, contudo, claro que apoia o regresso do ensino superior à cidade." 

"Pedro Santana Lopes optou por não fazer considerações sobre a intervenção do munícipe. Não obstante, e sem se referir a ele, afirmou aos jornalistas: “Não recebo lições de ninguém sobre o apreço, o reconhecimento de valor daquele edifício, daquele conjunto. Ninguém fez mais por aquilo do que eu”. De resto, o município adquiriu a propriedade a privados no primeiro mandato do autarca (1997-2001), para construir o CAE."

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Em 8 horas, mais de 9 mil visualizações... (E, vai continuar a somar)...

(Já ultrapassou as 52 000....)
Vídeo via António Agostinho
O resto é música... Tudo isto existiu, tudo isto foi triste, tudo isto foi o nosso fado durante 12 anos...

Orçamento Participativo... (3)

 Via Diário as Beiras

Carlos Batista, presidente de A Malta do Viso: “quando nos deparámos com esta situação, comunicámos à câmara que isto é um presente envenenado”

 Via Diário as Beiras

"Tudo o que se faz com vontade e com amor"...

NA MORTE DE JOÃO TRANCA (JOÃO MARIA REIGOTA)...

«O Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque - CEMAR (Figueira da Foz do Mondego e Praia de Mira) cumpre a sua dolorosa obrigação de anunciar publicamente o falecimento, em 15.05.2022, aos noventa e dois anos de idade, do seu Associado, e membro do seu Conselho Consultivo e Científico, o Tio João Tranca (João Maria Reigota, 1930-2022), um dos homens mais prestigiados e acarinhados da comunidade dos Pescadores da Praia de Mira — emblemático pescador (revezeiro) dos grandes "Barcos-do-Mar" antigos —, e que, para além disso, nos últimos anos havia também contribuído decisivamente, como artesão e artífice da Memória colectiva, para as iniciativas culturais e identitárias que ao longo de mais de duas décadas aí foram levadas a cabo pelo CEMAR e as entidades autárquicas locais, em parceria, para a dignificação e a salvaguarda dessa Memória.

Este grande homem, que nos honrou com a sua presença e com a sua colaboração, sempre franca e generosa, e que nos orgulhámos de ter tido no Conselho Consultivo e Científico da nossa associação científica e cultural, foi um homem corajoso e forte, que viveu desde a infância uma vida de sacrifícios e dificuldades — as circunstâncias materiais do que era então a comunidade dos pescadores da Praia de Mira não lhe permitiram aprender a ler e escrever, e por isso era iletrado. E, no entanto, apesar disso, veio a ser nos dias da sua vida uma das figuras mais prestigiadas da sua comunidade, e veio a ser reconhecido por todos quantos tiveram a ventura de com ele contactar pelo seu carácter, pela sua coragem, pela sua força e pelo seu exemplo de vida. 

João Maria Reigota (Tranca), pescador, revezeiro e redeiro, nasceu em 2 de Fevereiro de 1930, na Praia de Mira. Desde a infância, nessa terra que era a sua, desenvolveu a sua principal actividade no âmbito da Pesca de Arrasto para Terra, a pesca local que os Pescadores desta e de outras localidades semelhantes da Beira Litoral (desde Espinho e o Furadouro até à Vieira) antigamente chamavam simplesmente "a Arte" "a Companha", e que veio depois a ser designada legalmente pelas entidades estatais das capitanias e do Estado português com o nome oficial de "Arte-Xávega" (para além de, entretanto, erroneamente, ter sido chamada "Xávega", como se fosse igual à do Algarve [!], por muitos divulgadores, académicos, universitários, jornalistas, e outros "eruditos" que nada sabem, nem querem verdadeiramente saber, do mundo dos pescadores).
Tal como tantos outros pescadores da "Arte", à medida que tal tipo de pesca foi decaindo e diminuindo (desde o Furadouro até à Vieira), João Tranca veio a trabalhar também como pescador em traineiras de pesca da sardinha (na Figueira da Foz), e num barco alemão de pesca do bacalhau (na Alemanha e na Terra Nova). Do trabalho nas traineiras,  em Portugal, viria depois a reformar-se, em 1989. A partir desse ano, voltou às companhas da "Arte" (Arrasto para Terra), na sua terra natal da Praia de Mira e na vizinha praia do Areão.

Para além do seu trabalho como pescador, em que desempenhou as importantes e corajosas funções de "revezeiro", em que se cotou como um dos mais considerados de sempre na Praia de Mira, foi também responsável por funções de "redeiro" (especialidade em que foi sempre apreciado como particularmente competente), e foi o proprietário de um dos últimos exemplares do tipo de embarcação chamada "Bateira do Mexoalho" ("Bateira de Buarcos" ou "Bateira da Praia de Mira") que existiram em Buarcos e na Praia de Mira (o seu exemplar foi precisamente o último que foi possível ser preservado para a posteridade, para um dia os vindouros virem a saber como era esse tipo de embarcação). Tratou-se da sua bateira "Lina Maria", que nos anos 80 do século XX foi obtida na Praia de Mira e meritoriamente salvaguardada pela Marinha Portuguesa, que então a levou, para fins museológicos, para o Museu de Marinha de Lisboa, onde desde então se encontra (e onde é apresentada com o nome de "Buarcos").»

LIBERDADE

 A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia em Abril de 2022

Foto António Agostinho. Local: Praça da República, Coimbra.

No dia 25 de abril de 1974 tinha 20 anos de idade. Vivia na Cova e Gala, uma Aldeia bisonha, cinzenta, deprimida e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto, incluindo as que me estavam mais próximas. O preto era a cor das suas vidas. A minha avó Carmina Pereira, Mãe do meu Pai, viúva de um pescador do bacalhau, desde a década de sessenta que vestia de preto. A minha avó Rosa Maia, Mãe da minha Mãe, viúva de um combatente da I Guerra Mundial, vestia de preto desde 1928. 

A minha Mãe, ficou viúva a 6 de Junho de 1974. No dia 25 de abril de 1974 tinha 20 anos de idade. Vivia na Cova e Gala, uma Aldeia bisonha, cinzenta, deprimida e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto, incluindo as que me estavam mais próximas. O preto era a cor das suas vidas. A minha avó Carmina Pereira, Mãe do meu Pai, viúva de um pescador do bacalhau, desde a década de sessenta que vestia de preto. A minha avó Rosa Maia, Mãe da minha Mãe, viúva de um combatente da I Guerra Mundial, vestia de preto desde 1928. 

Passou, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, a vestir de preto até 14 de Julho de 2015, dia em que morreu.

O 25 de Abril de 1974 vai fazer 48 anos. 

Portugal, antes, era diferente! Havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado, licença para poder usar isqueiro... 

E havia medo, muito medo.


Apesar das dificuldades actuais, mudou-se muito. E para melhor. 

A democracia política foi conquistada. Em 2022, não é o 25 de Abril que está em causa. O que está em causa é o retrocesso de quase todos os valores de Abril. Em nome de um economicismo balofo que despreza as pessoas, estão a descaracterizar tudo o que de positivo, a nível social e laboral, foi conquistado nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. 

Temos assistido ao esvaziamento de conquistas fundamentais da revolução. Neste momento, estamos perante a tentativa da  hegemonia da ideologia política da economia neoliberal e do seu projeto regressivo de nova opacidade e gerador de novas desigualdades. Têm vindo a tirar o básico aos portugueses: pão nas mesas, acesso à saúde, ensino de qualidade e habitação digna, em nome de que valores civilizacionais? 

Portugal, antes do 25 de Abril de 1974, era um país pobre que tinha alguns ricos. Vivia em ditadura, mas havia democratas que lutavam e morriam pela Liberdade (com os comunistas na primeira linha do combate). Vivia em capitalismo, mas os empreendedores eram quase todos "merceeiros protegidos do regime salazarista". Vivia isolado, mas tinha uma "ala moderada" que aspirava europeizar-se. Era um País ameno e de brandos costumes, mas onde quem procurava remar contra a maré era perseguido, preso, torturado e até morto. Dizia-se crente e civilizado, mas era bárbaro. Religioso, mas não praticante. Recusava ser considerado fascista, mas tinha a PIDE e presos políticos encarcerados sem julgamento, ou com julgamentos fantoches. 


Nesse País havia a minha Aldeia. A Cova e Gala era, em Abril de 1974, um pequeno povoado mal iluminado. Quase que não existiam ruas. As casas eram praticamente todas desconfortáveis. Na altura, a Cova e Gala era uma pequena Aldeia esquecida, com cerca de  2 000 habitantes, localizada à beira do Atlântico. Vivia-se ainda pior na minha Aldeia que em algumas localidades vizinhas: nas casas não havia esgotos e a corrente eléctrica era  ausência em muitas habitações. Existia muita miséria material, fome e outras privações, as condições de trabalho eram desumanas, existia má nutrição. E havia quadros familiares de risco. 

A vivência na  Cova e Gala era influenciada pelo que se passava no Atlântico Norte a bordo dos barcos da "faina maior". A pesca ao bacalhau era  sustento das família e uma vida para pessoas moldadas às agruras de uma existência dependente de ventos e marés, rijas de corpo e com o coração curtido pelas perdas de amigos e familiares dedicados à mesma lida, mas que encontravam na pesca do bacalhau a expressão máxima desse sacrifício diário que lhes proporcionava angariar o sustento das famílias. 

Gente habituada a ter de arriscar a vida para continuar a existir.

O cenário em que cresci, foi o de uma Aldeia de um País negro nas ideias, economicamente débil, que vivia na escuridão de uma ditadura com 48 anos de existência. 

Em 25 de Abril de 1974 caiu a ditadura. Chegou a democracia. Considero-me um privilegiado. Nunca deixei (nem deixarei enquanto tiver forças para isso) de exercer o voto, “um direito” que adquiri com a democracia e um “legado” de todos aqueles que lutaram décadas (com os comunistas na primeira linha) para que eu pudesse ter uma vida vivida "quase" toda em democracia, que foi o melhor que ganhei com o 25 de Abril.

O dia 27 de Abril de 1974, na Figueira, foi “uma loucura, extraordinária”. Foi talvez o momento mais vibrante da democracia figueirense. Foi único - nunca vi tanta gente na Rua a manifestar-se. Nunca vi manifestação tão genuína, tão forte, tão festiva, tão alegre e tão intensa no nosso concelho.

Nos anos a seguir ao 25 de Abril o povo envolveu-se e participou na construção da democracia. 

Deixo o meu testemunho: a  única coisa que me interessava era participar na construção democrática de um País renascido. Preocupei-me em conhecer gente culta e politicamente evoluída para aprender. Fui dirigente sindical. Participei em listas para eleições autárquicas. Fui dirigente associativo. Nessa altura, os partidos estavam activos. Na Gala, ajudei a abrir uma delegação do MDP/CDE. Da sua actividade, recordo a alfabetização de muitas mulheres que tinham os filhos emigrados e não sabiam ler as cartas que recebiam. 

Anos mais tarde, em 1986, fiz parte do primeiro executivo da Junta de Freguesia de S. Pedro.

A liberdade de informação e o fim da censura foi uma conquista fundamental e “imbatível” da democracia. 

Em 1976, com 22 anos de idade, o jovem que eu era, curioso e sedento de aprender, que vivia numa Aldeia "que era como um novelo de lã em que não sabíamos onde estava a ponta por onde se devia puxar para a desenvolver”, começa a interessar-se pelo exercício do jornalismo. Primeiro, como correspondente do jornal O Diário. Depois, fazendo parte da equipa Barca Nova, onde conheci pessoas extraordinárias, com quem muito aprendi e evoluí.

O que sou hoje, devo-o na totalidade ao facto de ter tido a oportunidade de viver a maior parte da minha vida em liberdade. Por ter vivido 20 anos no salazarismo, que é o nome que se dá ao Estado Novo português, período ditatorial que foi iniciado em 1933 e finalizado em 1974, com o triunfo da Revolução dos Cravos, sei avaliar o que é viver numa ditadura e a reconstrução de uma democracia. Olhando para os 68 anos que tenho de vida, recordo os primeiros 20, os que vivi em ditadura, como um espaço de tempo que custou a passar. Os 48 que vivi em democracia passaram num instante. Do 25 de Abril de 1974 para cá, tudo parece que foi ontem.

A ditadura castra e oprime, bloqueia o pensamento e impede que se escolha. 

Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril! Sempre!

terça-feira, 17 de maio de 2022

Os figueirenses há muito que procuram políticos que lutem pelos seus interesses. Contudo, só acharam políticos que lutam pelos seus interesses...

A Figueira anda há mais de 100 anos à procura de uma solução para a barra.
Existe um estudo sobre como melhorar o Porto da Figueira. Quem estiver interessado pode consultá-lo na Biblioteca Municipal, num dos jornais locais de 1914.
Esse precioso e importante trabalho, refere a construção de um "paredão a partir do Cabo Mondego em direcção ao quadrante sul"

Esse projecto, da autoria do Eng. Baldaque da Silva,  para a construção da obra de um "Porto Oceânico", foi aprovado na Assembleia de Deputados para ser posto a concurso, o que nunca aconteceu, pois foi colocado numa gaveta. 
Neste momento, como as coisas estão na enseada de Buarcos, já não deverá ser possível colocar ali o "Porto Oceânico", uma vez que as construções ocuparam os terrenos necessários ao acesso àquilo que seria um porto daquela envergadura.
Porém, o estudo do Eng. Baldaque da Silva poderia servir de base para a construção de um paredão com cerca de 1 800 metros, que serviria para obstruir o acesso das areias à enseada de Buarcos, traria benefícios consideráveis: acabaria o depósito de areias na enseada, barra, rio e praia; ficaria protegida a zona do Cabo Mondego e Buarcos, evitando a erosão das praias da zona e os constantes prejuízos na ida Marginal; serviria de abrigo à própria barra, quando a ondulação predominasse de Oeste ou O/N.

In a Voz da Figueira de 30 abril 1959:

"Discursando na inauguração das obras exteriores do porto de Portimão, o Venerando Chefe de Estado, Sr. Contra-Almirante Américo Tomaz, pronunciou mais um dos seus saborosos discursos, e referiu-se, na seguinte passagem, às obras do nosso Porto: Há muitos anos foi resolvido o caso de Leixões. Hoje é o de Portimão. Há pouco foi o de Aveiro. Em breve será o da Figueira da Foz"...

Ao longo dos anos, foram disparates em cima de disparates que se cometeram na orla marítima figueirense. Recordo este post  de março de 2009.

Tudo começou a 15 de Maio de 1959, com o concurso público para arrematação da empreitada das obras exteriores do porto da Figueira da Foz.


“Entre o progresso e a decapitação da beleza natural, decidiu-se pelo progresso.
Contudo, isto não ficou assim: o molhe norte do porto comercial da Figueira da Foz cresceu mais 400 metros.
Entretanto, a  Figueira continua com o futuro adiado.