A nitidez, ofusca e perturba.
Há dias em que precisamos de desligar.
Há dias em que o fazer de conta nos acalma.
Há dias que gosto de pensar que comando a minha vida.
O poder precisa da burocracia, para permanecer difuso e longínquo.
O cidadão normal raramente conhece os caminhos para a solução dos seus problemas.
O poder é aquela entidade abstracta (apesar desta democracia; e também por causa dela...), que julgamos capaz de os resolver.
E assim ele, este poder, permanece igual a si próprio - apesar dos debates em épocas específicas, normalmente no decorrer das campanhas eleitorais, e das sucessivas eleições.
Hoje, é daqueles dias em que não me apetece ser preciso nem concrecto.
Fico-me pelo fumado, que deixa o fundo em que nos movemos difuso, mas giro.
Há dois sentimentos, contudo, que nos fazem sentir vivos, como João Villaret tão bem dizia ao declamar o "Amar ou odiar", de Fausto Guedes Teixeira.
"Amemos muito, como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos,
Porque é no sentimento que ela está."
Este, porém, para mim, é já o tempo de modorra, de descanso, de contemplação.
A temperatura política na Figueira, muito alta e sensível à humidade, apela para que se faça nada!
Por enquanto - e este por enquanto é até domingo - vou apreciar a calma e a ausência de stress.
Estou tão tranquilo, que nem o facto de ontem à noite no debate, andar um assessor da câmara a distribuir o jornal da campanha do PS, no interior do CAE, me perturbou (oh Fernando Pata Cardoso, sabes que até me dou bem contigo, por isso fica o alerta: não vale tudo na vida, como na política. Eu sei que tu és ainda muito jovem e não podemos entender tudo de uma vez. Temos que ir por etapas, por camadas... E temos que deixar que os saberes se sedimentem, para podermos passar à fase seguinte. Não vale a pena queimar etapas... Não resulta! Saber e compreender demora anos! Mas, quem te avisa, teu amigo é...)
Entretanto, vou olhar, sorridente, para as cartas que me venham a couber em sorte para as partidas de sueca que vou jogar até ao próximo dia 1 de outubro!
Estamos em tempo de colheita. O semeado está pronto para a ceifa.
Temos muito pouco tempo - dois dias já é um tempo muito curto - para se poder tirar produto novo e melhor desta amaldiçoada terra figueirense.
Por mim, neste momento, apenas tenho a dizer, que gosto muito de todos.
Abraços para quem é de abraços e abreijos para quem é de abreijos.
Depois do dia 1, a vida, por estas bandas, continua normalmente...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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2 comentários:
De facto, assisti com os meus olhos, ontem à noite, antes do debate, um assessor da CÂMARA a distribuir um jornal de campanha do PS, dentro do CAE...
Na política não pode valer tudo!
Espero bem que no seguimento daquele slogan do--Mudar já--Não mudei a aldeia de sitio pois dava-me uma trabalheira do caraças a mudar a mobília toda.
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