Ao deparar na pág. 8 do semanário “A
Voz da Figueira”, de 13 de janeiro de 2016, com o anúncio da
construção desta “milagrosa” obra onde irão gastar (estragar
mais de 2,1 milhões de euros), fiquei perplexo!..
No entanto, os meus 91 anos não
deveriam permitir que isso acontecesse! Mas, parece sempre algo que
nunca nos passaria pela imaginação.
Afinal: devemos aproximar a Cidade do
Mar, ou o Mar da Cidade?
Insisto: devemos procurar a todo o
custo aproximar o Mar da Cidade, como no tempo em que a Figueira era
a Rainha das praias.
Leva-me a crer que quem tomou esta
iniciativa desconhece que foi a “Praia da Claridade” que deu a
grandeza e beleza à Figueira e não será esta “milagrosa” obra
que irá repor essa condição!
Na realidade, o extenso areal existe e
todos sabemos qual a razão e, mesmo sabendo, foi decidido
acrescentar o molhe norte!
O resultado está bem visível e é
lamentável! Pelo que li, o areal distancia o mar da cidade 40 metros
em cada ano!
Julgo que todos sabemos - ou o que nos
leva a crer, nem todos - esta areia não pertence à Figueira e não
deveria ali estar.
Também por artigos que pude ler, há
quem tenha apreensão em relação à permanência da areia ao longo
do tempo. A meu ver com razão.
Este pensamento faz todo o sentido!
Mais ano menos ano, mais década menos década a areia vai ter de ser
utilizada.
Portanto, a solução para voltarmos a
ter um bem indispensável à nossa terra, esse sim que pertence à
Figueira, é pegar no projecto do saudoso Eng. Baldaque da Silva e
construir o indispensável “Paredão a partir do Cabo Mondego” e
dar início à bombagem das areias depositadas na ex-Praia da
Claridade, para o molhe sul do Cabedelo, que o mar (sendo soberano)
se encarregará de as distribuir para onde entender, porque lhe
pertencem!
Parte desta areia, que seria
simplesmente uma pequena parte, digamos, poderia e deveria ser
utilizada, ou melhor, reposta na praia de Buarcos.
A importância gasta nesta operação
(que há muito deveria ter sido feita) não aumentaria a despesa ao
Estado, porque essas areias iriam evitar a erosão em várias zonas
da orla costeira.
Na recente intervenção para prevenção
da erosão nas dunas, na Figueira, na parte sul da praia da Freguesia
de S. Pedro, assim como na Costa de Lavos e Leirosa, andaram
envolvidas várias máquinas a transportar milhares de m3 de areia da
própria praia, para substituir o que o mar levou!
Isto não é uma solução, mas sim um
remendo...
(Que não resulta. Esta areia
depositada por meios mecânicos não tem a resistência da areia que
lá se encontrava depositada hidraulicamente ao longo de milhares de
anos.)
Enquanto não devolvermos ao mar as
areias que lhe roubaram (e que lhe fazem falta) continuamos à sua
mercê. O mar faz parte da natureza e o ser humano não tem poder
para a dominar! Tem sim que a respeitar e, com inteligência, saber
defender-se das fases nocivas.
Pelas razões que expus, terei, a
contragosto e uma vez mais, de adicionar mais uma obra ao meu arquivo
de obras “asnas” e gostaria que fosse a última, não porque na
verdade já não terei muito mais tempo para o fazer, mas por
deixarem de existir.
O mar deu brilho e riqueza à Figueira,
à praia, à faina da pesca – com destaque para a do bacalhau -,
grades secas, fábricas de conservas e indústria naval e a Figueira
há muito lhe virou as costas.