foto antónio agostinho |
"A situação está a afetar 30 a 40 embarcações e cerca de 100 famílias. A barra tem estado sempre fechada de há uns meses para cá. Desde outubro ou novembro, só fomos 10 dias ao mar ou pouco mais", disse à agência Lusa Alexandre Carvalho, pescador e proprietário de uma embarcação.
Embora admita que no inverno é "comum" a barra estar fechada à navegação de embarcações mais pequenas - um balão negro, "a meio pau", no Forte de Santa Catarina, sinaliza a proibição de navegação a embarcações com menos de 11 metros -, Alexandre Carvalho sustenta que depois de terminadas as obras nos molhes do porto, a draga "deixou de atuar" e a barra "está assoreada", dificultando o acesso aos pequenos barcos de pesca, com cerca de nove metros."
José Nunes André, é um geógrafo e investigador universitário e tem
vindo a monitorizar a acumulação de sedimentos através de três perfis
transversais, elaborados numa faixa de dois quilómetros de comprimento no areal
entre a Figueira da Foz e Buarcos.
Em 5 de Março de 2012, quase há um ano, li a seguinte notícia:
"Tem dado uma média de 40 metros ao ano de crescimento
da praia. E a sul [dos molhes do porto] temos o reverso da medalha, as praias
estão a recuar assustadoramente. As praias da Cova Gala e da Leirosa recuaram
15 metros num ano".
De acordo com o investigador, o ritmo de crescimento do
areal da Figueira da Foz é, atualmente, superior ao verificado aquando da
construção original do molhe norte, nos anos 60 do século passado.
A praia, explicou na altura (conforme dei conta neste blogue), cresceu cerca de 440 metros até à década
de 1980 e, a partir daí, nos últimos 30 anos, a acumulação de sedimentos
reduziu de intensidade e praticamente estabilizou.
No entanto, com a obra de prolongamento do molhe - concluída
no verão de 2010 -, o areal voltou a crescer e, atualmente, apresenta 580
metros de largura máxima entre a marginal e a orla marítima, segundo as
medições feitas por José André.
Este geógrafo recordou que, por ocasião da obra, o período
estimado de crescimento do areal foi estabelecido em 12 anos. Segundo os dados
de que dispõe, e a manterem-se os valores observados, o prolongamento da praia
vai ocorrer "apenas em seis, sete anos, até que as areias contornem o
molhe".
O crescimento da praia em largura representa ainda, segundo
o geógrafo, uma acumulação anual de 290 mil metros cúbicos de areia na faixa
estudada, o equivalente a 290 mil toneladas.
Mas, se a norte do Mondego a areia acumula, a erosão cresce nas
praias a sul.
Na Leirosa, no extremo do concelho da Figueira da Foz, as
autoridades construíram, no final de 2011, uma duna artificial para proteger um
bairro habitacional do avanço do mar, com areia retirada a norte de um pequeno
esporão ali existente, procedimento que merece críticas do investigador.
"Interrompeu-se a alimentação a sul. Nunca era de
tirarem a areia a norte do esporão, porque ela estava já a passar naturalmente
para sul, tinham era de se ir buscá-la onde ela se acumula e não faz falta, na
praia a norte do rio Mondego".
Há uns dias, o presidente da Câmara da Figueira da Foz preocupado com a erosão costeira, que destruiu a duna natural, está a engolir a duna artificial e ameaçar o bairro da empresa municipal de habitação social Figueira Domus, visitou a Leirosa.
Ontem, políticos do PS e do PSD, andaram à pesca para os lados da Leirosa...
Presumo que a pescaria não deve ter sido lá grande coisa, pois este "peixe já está congelado há muito"...
Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial...
E o essencial, neste momento, para quem vive e trabalha no concelho da Figueira é a erosão costeira a sul do estuário do Mondego e o assoreamento da barra da Figueira.
Para já, porém, ao que parece, existem outras preocupações prioritárias: a pré-campanha eleitoral…
É do conhecimento geral a forma como as máquinas partidárias se desligaram das vidas reais das pessoas: mas isso é culpa das pessoas reais - as máquinas não pensam...
Enfim, estamos a viver um momento em que quase apetece arrumar as botas, que a razão já tem pouco a ver com o que se passa e vai continuar a passar nesta bela cidade da Figueira da Foz, em particular, e no país, em geral.
Mas, tenhamos um restinho de esperança: um dia ainda hão-de ser de forma genuína as pessoas a contar.
Nota de rodapé.
Para poupar tempo e trabalho, destacamos apenas algumas postagens que temos feito ao longo dos anos de existência deste espaço, sobre o tema da erosão costeira na Figueira, para tentar alertar os diversos "quens" de direito.
Por exemplo, esta, esta, esta, esta, esta, esta.
Mas há mais. Basta escrever no canto superior esquerdo a palavra erosão e clicar.
NN
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