— “A Alemanha na Europa 2024 – Da hegemonia relutante ao vazio político”
«Hoje, perante a indiferença, o conformismo e a complacência, e em muitos casos a promoção nazi-fascista, por parte dos grandes e pequenos poderes políticos e de uma boa porção da sociedade civil, interrogo-me:
“ao fazer algum tipo de analogia entre a criação deste transe coletivo, quase irracional, que se está a viver e que se vê crescer de forma assustadora, e o transe colectivo que levou Hitler ao poder, não estará a Europa a ser como o pobre animal deste quadro, que cegamente e ingenuamente julga caminhar em direção à luz quando, na verdade, caminha para a morte?” (período por mim adaptado, partindo de um texto de Adão Cruz)
Não se pense porém que o problema que atravessamos resulta da má política do país A ou B ou C, não é isso, o problema fulcral é o modelo neoliberal que estrutura toda a Europa e desde há décadas. A União Europeia está toda ela como está, ou seja, em franca decomposição, e o texto de Tooze reflete essa mesma realidade crua e dura. Olhando para fora da União Europeia, vejamos o que nos diz um importante Conservador britânico, Victor Hill, sobre o que se na passa no Reino Unido:
“Há poucas hipóteses de os serviços públicos britânicos melhorarem consideravelmente até ao final do outono. As listas de espera do Serviço Nacional de Saúde (NHS) continuam a ser de quase 7,5 milhões de pessoas; e a polícia foi aconselhada a não prender criminosos porque as nossas prisões estão literalmente cheias. Prevalece uma sensação de deriva e de declínio, com poucas expectativas de que um governo trabalhista seja capaz de inverter a situação. De facto, há muitos indícios de que o povo britânico não está particularmente encantado com o Partido Trabalhista de Sir Keir Starmer, enquanto despreza os Conservadores. Em termos eleitorais, é o oposto do MasterChef. Os eleitores são convidados a provar não o prato mais delicioso da ementa, mas o menos revoltante.” (Victor Hill, As eleições gerais no Reino Unido foram muito mal planeadas , 31 de maio de 2024)
Se adicionarmos aos problemas resultantes de um modelo (des)estruturante, o modelo provadamente falhado da União Europeia e desde há décadas, a incompetência que grassa por todos os escalões profissionais e políticos de qualquer um dos países na Europa, a começar por Portugal, percebemos que a situação está a ficar explosiva. O caricato é-me dado hoje por um canal televisivo, questionando Bugalho quanto à sua ambição de querer ser ou não, primeiro-ministro no futuro. A lembrar Kafka, o seu conto que, salvo erro, se chama O homem do leme. Até onde descemos na espiral da ignorância e da estupidez em que até se coloca a hipótese de alguém que tendo o paleio de um fala-barato ou de um troca-tintas possa, por isso mesmo, chegar a primeiro-ministro!»
Júlio Mota
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