Nuno Júdice morreu ontem, vítima de cancro. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO por fonte próxima da família. O poeta – que foi também ensaísta, romancista e praticou uma multiplicidade de géneros literários, para além de ter sido professor universitário e, desde há alguns anos, director da revista Colóquio/Letras – nasceu em 1949, em Mexilhoeira Grande, Portimão, no Algarve.
Com a sua morte aos 74 anos desaparece um dos poetas portugueses que mais refletiu sobre os limites da própria poesia.
Segundo as suas palavras, o volume com que, em 1972, inaugurou o seu longo catálogo foi o começo de um livro «contínuo».
"Domingo no campo", é um poema que publicou aqui.
Com a sua morte aos 74 anos desaparece um dos poetas portugueses que mais refletiu sobre os limites da própria poesia.
Segundo as suas palavras, o volume com que, em 1972, inaugurou o seu longo catálogo foi o começo de um livro «contínuo».
"Domingo no campo", é um poema que publicou aqui.
Aos domingos, quando os sinos tocam
de manhã, o que neles se toca é a manhã,
e todas as manhãs que nessa manhã
se juntam, com os dias da infância que
nunca mais acabavam, as casas da aldeia
de portas abertas para quem passava,
as ruas de terra batida onde as carroças
traziam as coisas do campo, os cães que
corriam atrás delas, uma crença no sol
que parecia ter expulso todas as nuvens
do céu, e a eternidade desses domingos
que ficaram na memória, com o ressoar
dos sinos pelos campos para que todos
soubessem que era domingo, e não havia
domingo sem os sinos tocarem a lembrar,
a cada badalada, que os domingos não
são eternos, e que é preciso viver cada
domingo como se fosse o primeiro, para
que o toque dos sinos não dobre por
quem não sabe que é domingo.
Nuno Júdice
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