segunda-feira, 21 de junho de 2021

Porque é que este blog continua a incomodar tanta gente?

Outra Margem - José Tolentino Mendonça
Citação do Livro O PEQUENO CAMINHO DAS GRANDES PERGUNTAS


A criação deste blog, a 25 de Abril de 2006, já vão mais de 15 anos, incomodou algumas pessoas. Na Figueira, a liberdade de expressão nunca foi para todos. 

Essa estranha concepção da liberdade de expressão nunca foi a minha.
A liberdade de expressão, se avaliada apenas em função de quem tem voz no espaço mediático, é um privilégio reservado apenas àqueles que mercê da sua notoriedade política ou especial competência em matérias que interessam aos média, conquistam  espaço em  páginas de jornais e antenas de rádio e televisão.

Por vezes, as coisas funcionam ao contrário, isto é, por um motivo qualquer, determinadas pessoas tornam-se colunistas e, a partir daí, adquirem uma notoriedade que lhes advém apenas dessa condição, sem que lhes sejam reconhecidas especiais aptidões para tal privilégio. Porque se trata, de facto, de um privilégio. Ter voz no espaço público mediático é deter um enorme poder.

Nos EUA, os colunistas com assento habitual nos média são chamados pundits (eruditos. No livro Breaking the News, o antigo jornalista James Fallows traça sobre eles um retrato devastador). Há-os especialistas em política, em economia e em muitas outras áreas, as quais na maioria dos casos nunca investigaram. A partir da notoriedade ganha através dos média, onde doutamente fazem análises e previsões sobre as quais raramente são questionados e responsabilizados, adquirem privilégios e acesso a fontes de poder, traduzidos, pelo menos nos EUA, em lugares e dinheiro.

Dir-se-á que em Portugal - e muito menos na Figueira - não é assim. Muitos colunistas são convidados para escrever e, em geral, não recebem retribuição financeira. Mas ser colunista de um jornal, rádio e televisão (geralmente alternam e rodam nos diversos meios) é sinónimo de poder político, pela oportunidade de apontarem quem conta e como conta.

Ter uma coluna fixa num jornal ou ser comentador “residente” num canal de televisão - mesmo na Figueira - é  privilégio de uma minoria. Para esses, a liberdade de expressão possui um sentido real e concreto. Ao contrário, o cidadão comum dificilmente tem acesso ao espaço público mediático, a não ser, esporadicamente, em fóruns radiofónicos e televisivos ou no chamado espaço dedicado ao correio de leitores, com intervenções sem continuidade e sujeitas à boa vontade do director.

Foi também por isso, mas não só por isso, que há mais de 15 anos nasceu OUTRA MARGEM
Mas, afinal o que continua a incomodar os críticos deste blog? Que o autor só obedeça aos parâmetros balizados pela sua consciência? Felizmente, alguma blogosfera ainda consegue furar a pulsão censória que existe no espaço mediático tradicional!

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