quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Da longa série “ai o que eu lhe fazia”...

Via Filipe Tourais

"A reacção maioritária ao caso do obstetra e do bebé sem rosto é parola. Um país de parolos não muda com reacções parolas, mantém-se parolo. Os parolos consomem notícias repetidas como se o que estivesse a acontecer fosse absolutamente inédito e como se, a partir do momento em que o alvo da sua indignação parola fosse exemplarmente punido, garantidamente nunca mais voltasse a repetir-se. E o problema está exactamente aqui, nas garantias que o sistema dá que este foi apenas mais um caso que irá repetir-se ao sabor do acaso e na parolice que garante que o sistema sobreviva falhe o que falhar. A Entidade Reguladora da Saúde, que ganhou competência para o licenciamento de clínicas como a do obstetra criminoso em 2014 e nunca o fez, é um regulador como todos os outros, não regula porcaria nenhuma. Tem apenas cerca de 30 funcionários para fiscalizar perto de 30 mil unidades de saúde graças à tolerância da mesma parolice que assimilou a ideia que repete à exaustão de que não há dinheiro e vota massivamente ou simplesmente desistiu de votar, garantindo longa vida à austeridade que nos vai dando cabo das vidas, ainda por cima uma austeridade que protege negócios feitos com a nossa Saúde que, por não serem minimamente fiscalizados, colocam em perigo a vida de todos, sobretudo a dos próprios parolos que, na vez de exigirem um Serviço Nacional de Saúde universal e de qualidade, um SNS que pagam e deixam apodrecer, se convenceram que ir a estes privados que funcionam com as regras que querem lhes resolve o seu problema individual muito melhor com o bónus adicional de lhes conferir estatuto social. Gente que não reage como gente jamais conseguirá lutar para ter vida de gente.
Bom dia a quem ainda resiste."

1 comentário:

  1. Triste triste é sermos um povo que precisa ser regulado e fiscalizado em tudo.

    Não haver honra, dignidade e honestidade e passar a perna a quem se pode para ter estatuto/poder e dinheiro - só isso interessa aos povos latinos.

    Não há sentido de comunidade e bem comum.

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