Vou recuar até ao já longínquo ano de 1996.
Manuel Luís Pata, no extinto Correio da Figueira, a propósito da obra, entretanto concretizada, do prolongamento do molhe norte da barra da nossa cidade para sul, publicava então isto.
“Prolongar em que sentido? Decerto que a ideia seria prolonga-lo em direcção ao sul, para fazer de quebra-mar.
Se fora da barra fosse fundo, que o mar não enrolasse, tudo estaria correcto, mas como o mar rebenta muito fora, nem pensar nisso!..
E porquê?... Porque, com os molhes tal como estão (como estavam em 1996...), os barcos para entrarem na barra vêm com o mar pela popa, ao passo que, com o prolongamento do molhe em direcção ao sul, teriam forçosamente que se atravessar ao mar, o que seria um risco muito grande...
Pergunto-me! Quantos vivem do mar, sem o conhecer?”
A Administração do Porto da Figueira da Foz (APFF) deverá realizar dragagens na barra este fim de semana, assim as condições marítimas o permitam.
A notícia foi avançada, ontem, pelo administrador Luís Leal, depois do comandante da capitania, Silva Rocha, ter alertado para o assoreamento do acesso às infraestruturas portuárias locais.
Hoje, pode ler-se nos jornais AS BEIRAS e Diário de Coimbra, que “a barra está, neste momento, numa situação crítica”, afirmou o militar, Silva Rocha realçou que, desde o início do ano, a barra esteve condicionada 63 dias a embarcações com comprimento inferior a 11 metros, outros 29 dias a embarcações com menos de 35 metros e encerrada durante 13 dias. Luís Leal adiantou que serão retirados 100 mil metros cúbicos da areia da barra, para repor o calado de 6,5 metros, que, devido ao assoreamento, neste momento, se encontra nos seis metros. A administração portuária vai iniciar dragagens, no final de setembro, a montante do molhe norte, que poderão transferir entre um e três milhões de metros cúbicos de sedimentos do areal urbano para a Praia da Cova. A quantidade de areia a definir está pendente da APA, que tem de se prenunciar se aquela transposição de areia necessita ou não de estudo de impacte ambiental. Aquele foi um tema abordado no debate promovido, ontem, pela APFF, nas suas instalações, sobre um estudo realizado pela Universidade de Aveiro sobre, justamente, o transporte de areias de norte para sul, no qual participaram Luís Leal (moderador) e Silva Rocha.
Esta nossa barra, ai esta nossa barra!..
Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
A pesca está a definhar, o turismo já faliu - tudo nos está a ser levado...
Resta-nos a promessa dos paquetes de passageiros e os números das toneladas dos cargueiros...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O que nos vale é que temos uma política bem definida para a orla costeira...
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